Páralo
Os cais sonham com a partida,
todas as horas numerando e
dinumerando, o dobrar e desdobrar
das velas, encharcando as ladeiras
com os restos cinéreos e estancos
de marés de gente forânea,
(desfloram os ilhéus virgens, pausando a morte
com o suor rugado dos nossos
campos, em vícios, numerários e
dívidas imperdoáveis.
Onde estão os filhos de Posídon,
os navios perderam os ascendentes, a
fuscina enferrujada, já não nomeia o
seu largo herdo e os rostos amados
das mulheres;
Alguém dizia, os mares doem,
numa alantíase de azuis impossíveis,
o mediterrâneo dói, em cercados
de alfazemas a amparar os golpes,
doí-me o meu país sempre que viajo;
Os cais amodorram ao entardecer,
com o sangue clandestino
dos homens nas proas fugidas, com
o hálito da noite roubado à
boca dos jasmins, e os sarcófagos
silenciosos das águas
tracejamos as coleções maiores e
menores de estrelas, aquelas que
movendo estereógrafos e astrolábios,
nunca sonhara Hiparco.
Helena Barbagelata (Lisboa, Portugal, 1991). É licenciada em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa e Pós-graduada em Línguas, Literaturas e Culturas. Desenvolveu estudos de investigação em Língua, Pensamento e Cultura Helénica na Universidade Nacional e Capodistriana de Atenas. Colabora como autora e ilustradora em diversas publicações, destacando-se: Revista Subversa – Literatura Luso-Brasileira, Diversos Afins – Entre Caminhos e Palavras, e Mallarmargens – Poesia e Arte Contemporânea. Participa em antologias no espaço latino e tem sido agraciada em vários concursos internacionais. É curadora de Literatura lusófona e de artes visuais da Philos.
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