A quem se condena ou proíbe o gozo? Fio condutor dos poemas e contos que incitam reflexões políticas e imaginações gozosas, essa pergunta promete levar-nos ao prazer e à raiva, ao deleite e ao incômodo. Os poemas inquietantes versam a política em íntima relação com o gozo, denunciando as aberturas, os fechamentos e as frestas que a masculinidade cisheterossexual estabelece, e que nós, “desviantes”, teimamos em transgredir.
Os contos, por sua vez, narram a própria transgressão. Ler este livro é comer um fruto proibido e atiçar os múltiplos sentidos desse tabu. Desejos vorazes, lamentos enciumados, vontade de proliferar o gozo e burlar a monogamia, sonhos borrados, fodas interrompidas, dores libidinosas.
A invisibilidade do sexo lésbico é aqui despida;  retira-se seu cobertor e revela-se a lascívia para muitos inesperada na falta da presença masculina. A narradora, em primeira pessoa, nos guia pela sua lente: deseja o lábio carnudo da caixa do supermercado – mesmo que sua parceira a espere em casa, de mãos a postos e pernas abertas -, e também se derrete ao ouvir a voz da aeromoça que a circunda.  Ao mesmo tempo, Débora Calmon relata e oferece o cuidado de uma mulher para com a outra; a apreciação mútua do gozo; o sexo lésbico como epítome da devoção e da igualdade entre duas. Ou três. Ou mais.
A imaginação é livre: nem femininas, nem masculinas; nem santas, nem putas; ou femininas e masculinas; putas, mas nunca santas. As nuances e o frenesi das vivências, lembranças e fantasias da autora provêem um amálgama de sensações, imagens e intenções capazes de inspirar a criatividade das leitoras. Em tempos tão enganosos e punitivos, o sorriso e o júbilo de mulheres que desejam outras é ousado e insubmisso.


ATENÇÃO: Livro ESGOTADO no catálogo.