Artista plástico, ativista e escritor do povo Makuxi, de Roraima, Jaider Esbell tem se destacado no cenário nacional e internacional. Com livros publicados, dentre eles, Terreiro de Makunaima – mitos , lendas e estórias em vivências e Tardes de agosto, Manhãs de Setembro, Noites de Outubro, ele criou a Galeria de Arte Indígena Contemporânea, aberta à coletividade e à prestação de serviços culturais. Nela, há a formação de alunos, com estágio para estudantes de artes visuais da Universidade Federal de Roraima – UFRR. Trabalha em articulação e fazeres coletivos comunitários com o povo Xirixana, habitantes da Reserva Indígena Yanomami, região de floresta amazônica, bem como em diversas atividades com os povos indígenas do lavrado e das montanhas.
“Encontro de Todos os Povos” é outra iniciativa de Jaider que aconteceu em diferentes edições. Desde que se desvinculou do seu emprego público, ele passou a fazer a “Itinerância Roraima – Arte e Vida, uma Jornada ao Brasil de Casa em Casa”. Suas pinturas têm participado de inúmeras exposições em diferentes locais do país.
“Makunaima, o meu avô em mim” é um texto memorialístico, em que Jaider relata e discute a necessidade de descolonizarmos o mito de Macunaíma, registrado por Mário de Andrade, há 90 anos. Sua proposta é olharmos esse personagem para além de um estereótipo de herói sem nenhum caráter e preguiçoso. É a natureza transformadora das coisas, uma entidade que não é gente. Dotado de uma capacidade de se metamorfosear e de ser simbolicamente representado, Makunaima pode ser o avô de Esbell, bem como pode ser uma força da natureza. Em suas palavras:

“É um estado de energia que se cria e recria em si mesmo como uma bananeira que não precisa de par. (…) Ele vem então em muitos estados transitórios, passa a aparecer além da oralidade, além do mito. Desce de seu estado supremo flechado por seu orgulho superado; quando enxerga-se além de seu orgulho e depois de todo o sofrer essencial. Ele rompe todos os limites, subverte todos os conselhos, deixa beijada a mão do seu avô, o jabuti, e vai ao encontro do pai de todos nós, o universo.”

Em 2016, Jaider foi agraciado com o Prêmio PIPA de arte contemporânea, parceria entre o Instituto PIPA e o Museu de Arte Moderna – MAM-Rio:

“O trabalho de Esbell enviesa ainda mais o caos das expressões humanas e não humanas. As forças da floresta, dos seres, emanam da arte do filho do tempo, de todas as influências: ancestralidade, conhecimento, memória, diálogos, plasticidade contemporânea, política global, o ser local, xamanismo visual, poder. Palavra, imagem, som, silêncio – comunicação em todas as linguagens. A arte de Esbell exige, para além dos sentidos, imersão.”

Seu texto, lúcido e poético, traz a consciência do seu pertencimento indígena e livres associações de ideias, sensações e impressões sobre a natureza, os acidentes ambientais e a necessidade de se olhar e respeitar os povos indígenas como protagonistas de sua própria história.
Já suas pinturas, ora em cores quentes e fortes, ora em preto e branco, revelam a gênese do seu povo, da Raposa Serra do Sol, do Monte Roraima, tríplice fronteira – Brasil, Guiana e Venezuela. Retratam paisagens mitológicas, naturais e sociais, sem compartimentar as diferentes áreas abordadas. Em seus quadros, bichos e frutas, o profano e o sagrado, animais e humanos, todos, fazem parte de uma unidade. Dão voz a um povo indígena, de rica cultura, pouco conhecido na imensidão do nosso país.
Sua arte dialoga com a sequência de fins e os recomeços de mundos em que vivemos. Ela propõe um recomeçar a partir da destruição, algo inaugurado com novo olhar, a despertar a consciência e a sensibilidade dos homens. Certamente, a arte de Jaider nos ensina a sobreviver diante do caos e a renascer, de novo, como os próprios indígenas têm feito ao longo dos seis séculos de colonização.


Ninfa Parreiras (Itaúna, MG, 1970). Autora, psicanalista e professora. Curadora da Flist – Festa Literária de Santa Teresa.


Bibliografia:
ESBELL, Jaider. Tardes de agosto, Manhãs de Setembro, Noites de Outubro. 2013.
—————. Terreiro de Makunaima – mitos , lendas e estórias em vivências. Prêmio Selo FUNARTE de literatura, 2010.
—————. “Makunaima, o meu avô em mim” IN Revista Iluminuras (UFRGS), 2018. no prelo
Prêmio PIPA: (http://www.premiopipa.com/pag/jaider-esbell/ acesso em abril 2018)
Sobre Jaider Esbell: (http://www.jaideresbell.com.br/ acesso em abril 2018)
Publicado por:Philos

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