Hildebranda e Fabíola Trinca apresentam a exposição Paixão Mordente, onde através da arte têxtil, do tingimento natural e da literatura visual propõe diálogo sobre a paixão como força de transformação e sustentabilidade.

As artistas Fabíola Trinca e Hildebranda transformaram o encontro de suas pesquisas na arte têxtil, na literatura e a busca pela reconexão com a natureza no projeto Paixão Mordente. Bernardo Ramalho, Priscilla Haefeli, Dani Barbosa, Igor Cabral e Marcella Klimuk foram convidados pela dupla pra integrar a coletiva que tem o tingimento natural e a poesia visual como bases pra dialogar sobre o amor pela vida e pelo planeta Terra. As arquitetas e galeristas Rafaela Lucena e Natasha Frota, da galeria Garimporio assinam a expografia da série de trabalhos que traz assuntos de imediata identificação com a poética da Galeria de Atmosferas criada e curada por elas.

Hildebranda e Fabíola são duas mulheres e artistas que nesse projeto se colocam também como ativistas e unem de maneira simbiótica produção e propósito: viver de maneira mais sustentável, consumir conscientemente, produzir com o mínimo de impacto negativo para o planeta e conquistar o máximo de pessoas possíveis para essa causa. Juntas, produzem obras que tratam do amor e apresentam possibilidades para se produzir arte extraindo responsavelmente da natureza a plenitude da sua beleza, vibração e cor. Fabíola é ativista sustentável, tingidora natural e artista têxtil, sua pesquisa parte do uso das plantas como canal de conexão através das cores e utiliza suportes como a fotografia e as instalações in natura. Hildebranda é artista visual e poeta que desenvolve pesquisas no campo da literatura visual, da arte têxtil, das intervenções urbanas e tem trabalhos que transitam entre as ruas da cidade (em tecidos e lambe lambes literários), galerias e festivais, como recentemente o Arte Core no MAM/RJ.

O projeto mergulha em uma artesania própria e no resgate de técnicas milenares como o bordado e o tingimento natural. São obras vivas, com cores vivas provenientes da flora brasileira. Foram utilizados os extratos naturais de rúbia e cochonilha para se chegar as diversos tons de vermelho. A literatura ocupa um papel fundamental no projeto. Todos os textos são assinados por Hildebranda e aparecem em poemas visuais, publicações-expositivas, livros-objeto, impressões serigráficas e bordados. São poemas e prosas escritos antes e ao longo do processo, que formam junto com o tingimento natural, realizado por Fabíola, a base da poética apresentada. Uma afirmação do fazer coletivo e da troca de saberes como ferramenta potente para uma transformação positiva da sociedade.

Nenhum tecido foi comprado, todos provém de um garimpo feito brechós e bazares. São tecidos nobres, de fibras naturais como o linho, a seda e o algodão. Um dos principais conceitos desenvolvidos nos trabalhos é o da “desmodelagem”, isto é: as partes das roupas são desmembradas sem ser descaracterizadas e posteriormente recosturadas, ganhando novas formas. A história da peça está presente, os trabalhos da modelista, do cortador, da costureira e da estilista são integrados às obras que tem a ressignificação como papel central. Dani Barbosa apresentou uma performance com som ao vivo, onde lê e interpreta os textos presentes nas obras.

Foram realizados 2 talks durante a exposição, em dezembro. “A trama e o tecido na Arte Contemporânea”” teve a artista e pesquisadora Mariana Guimarães e Ulissses Carrilho, curador da EAV Parque Lage como convidados. “Poesia Visual na Arte Contemporânea” a curadoras Keyna Eleison (EAV Parque Lage) e Pollyana Quintella (MAR) falaram sobre suas pesquisas no campo do uso da literatura nas artes visuais. Além da série de arte, o projeto também apresenta uma coleção de moda, com 65 peças únicas fruto do mesmo garimpo utilizado na feitura das obras. As peças seguem as mesmas premissas dos trabalhos de arte e pretendem justamente alargar e questionar os limites entre moda e arte. Cada peça contém poesias autorais selecionadas especificamente pra ela, são como peças-livro. Elas também podem ser expostas como obras, cada peça é única. O projeto trabalhou o tempo todo com esses deslocamentos, da roupas para a obra de arte e da obra de arte para roupa, do livro para objeto expositivo, expandido, do bordado como escrita, como traço abstrato, como cola e assim por diante.

Paixão Mordente como um grito alerta. A paixão move o mundo. Da paixão sempre se sai transformado. Quem está apaixonado está inevitavelmente voltado para o outro. Só apaixonados se dedicam verdadeiramente a uma causa. Aqui trabalha-se a paixão em seu sentido amplo, faz-se uma ode ao amor carnal e um mote para a paixão pela vida e pelo planeta. Num paralelo com a velha conhecida paixão ardente, pegou-se emprestado do vocabulário do tingimento natural a palavra “mordente”, essencial para o processo, pois é a substância química que fixa os pigmentos e mantem a durabilidade da cor. Aqui a paixão é mordente: fixa, morde e deixa marcas positivas. Essa fixação apaixonada é obviamente vermelha. Vermelho de perigo, vermelho de sangue, de vida, vermelho de morte. Vermelho de amor.

Publicado por:Philos

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