“O amor está no mundo para esquecer o mundo”
—Paul Éluard
Um novo país, um quase-continente de sargaço, floresce castanho no oceano e singra até as franjas da costa que o aguarda. A maior formação de todos os tempos abrange cinco mil milhas desde a África, um fenômeno catastrófico e profundo à deriva no mar, biomassa expressiva.
No modelo científico, a poesia requer estudos. Para Elizabeth Sewell: “a poesia não era uma amorosidade estranha e irrelevante num mundo caótico; era o florescimento necessário e consumado na grande árvore da vida; era a finalidade imanente do universo se fazendo vocal.” A poesia e a história natural nunca se dissociaram.

Poesia—Linguagem—Ciência. Termodinâmica: O sol aquece os corpos antes que morram, dignos de serem consagrados, admirados, pulverizados. De que substância é o rosto maculado entre a terra e o céu?
Rostos ocultos por lágrimas. Ninguém sabe o quanto chora o outro. O rosto que surgiria no espelho do mar, doando forma à nuvem movida por sopro mecânico, se exila dos sentidos. A desaparição da imagem causada pelo sargaço maciço. Um novo país sem espelhos. Destruída a transparência. As aparições da ausência eterna, seguiu Éluard em palavras. Aparições foscas.
Aos domingos pela manhã, mergulho na minha sombra densa, nadadora. Riso tolo acidental, motivado pela ideia de queda e privação. Marionetes dançam, polvos desengonçados, caranguejos invasores. Passos na direção do erótico, das alucinações, da intrusão no Outro Mundo rico em afinidades nadar—flutuar—amar—gritar. O corpo estremece nas bordas das ondas, rola deliciosamente sobre a areia macia, refrescado por algas verdejantes mais vivas do que os sentimentos que embalam.

Zéfiro declama, respira as insinuações, inspira, expira, extravia o olhar, destrói o belo. Inabalável Zéfiro. O Guardião do Passado varre o túnel que o percorre.
No espaço perdido entre os olhos, instala-se o terceiro olho, fixo no semblante, é ele quem enxerga a ameaça brutal do sargaço.
Nada consola a criança pelo balão afugentado entre nuvens. Ao acompanhar o voo do balão solto, o ruído da liberdade, enlevo próximo a sensação terminal. A lenta oscilação fluida do objeto, a natureza mística. Nada consola o vazio provocado pelo desenlace. Quantos tempos contém o rosto da criança: uma coleção de imagens. Exposição de fotos e filmes curtos protagonizados por rostos humanos durante o decorrer de pesadelos quando os gênios diabólicos em visita os abraçavam, beliscavam, provocavam dor e não se comoviam.

Uma continuidade incalculável além dos limites da moldura. Dois mil olhos vigilantes e um rei do Outro Mundo desponta da sombra. O homem é o lobo do homem, vulcanização dos sentidos. O bosque das algas funciona como labirinto de animais. Sístole de prazer saturnal a ser explicada por uma nova língua de 1620 palavras. Com o dedo geométrico, encontrar a metáfora certa para as algas flageladas em sistemas de suporte à vida regenerativa sob condições de micro gravidade.

“Se avecina un problema fastidioso en una amplia franja del Océano Atlántico que probablemente llegará a algunas playas de América a finales de este año: algas marinas. Muchas. Se trata de una biomasa de algas marinas gruesas y de color marrón en parches dispersos a lo largo de un cinturón de 8.000 kilómetros (5.000 millas) del Mar de los Sargazos, frente a la costa sureste de Estados Unidos.
Se espera que el sargazo llegue en los próximos meses a algunas playas de Florida, las islas del Caribe y la península mexicana de Yucatán. Las proliferaciones de sargazo no son nuevas, pero la aparición de este año en febrero fue un comienzo temprano para una masa de algas tan grande. En la orilla, el sargazo es una molestia, cubre las playas y desprende un olor desagradable al descomponerse, parecido al de huevos podridos.”
—Los Angeles Times, 2023