Na estreia do nosso especial Dossiê de Literatura Neolatina com curadoria de Souza Pereira e Sylvia de Montarroyos, apresentamos a obra de um dos maiores nomes da poesia francófona da contemporaneidade: a escritora, poeta, ensaísta e tradutora, Linda Maria Baros (Bucareste, Romênia, 1981). Vencedora do honrado Prêmio de Poesia Guillame Apollinaire (2007) foi recentemente nomeada como membro titular da Académie Mallarmé – Academia Francesa de Poesia Contemporânea (França). Sua vasta obra com dezenas livros e participações em antologias europeias e de línguas latinas justifica a sua crescente popularidade nos círculos artísticos e literários da atualidade.
Nas palavras da autora “As palavras compõem sinais de reconhecimento para aqueles que procuram ver além da ordem das coisas“.
Sem mais delongas, leiam o poema De amor e cianeto! em sua versão original em língua francesa e traduções ao português, español e italiano.
D’amour et de cyanure!
Ne m’appelle pas chez toi, dans ta mansarde,
tournant – comme un écervelé tournant! –
les boutons de la cuisinière,
pour te défaire une fois pour toutes
des hurlements des vieux loups du four,
de leurs poils mués,
qui te poussent sans cesse sur les bras,
la nuit, comme des furoncles, alors que tu éteins
les cigarettes profondément dans ta chair.
Ne m’appelle pas chez toi, dans ta mansarde,
fendant – comme un écervelé fendant! –
entre les barreaux du lit,
dans la porte, sous la botte,
ton tibia et ton péroné
– je les entends craqueter dans mon portable -,
comme si tu fendais
le vieux fusil de chasse de ton père,
trop poisseux pour que tu puisses le charger à nouveau,
après qu’il se fut brûlé la cervelle
et, pris de spasmes, qu’il eut cassé ta porte
à coups de pied.
Ne m’appelle pas chez toi, dans ta mansarde,
puisque j’y viendrai!
Et je m’arracherai le cœur de la poitrine,
je l’entaillerai avec les dents
et je le saupoudrerai de sel
extrait avec une rivelaine
de mes glandes lacrymales
et je le jetterai,
comme l’on jette une meule,
pour qu’il brise ton tibia et ton péroné,
– en de menus morceaux! -,
pour qu’il entasse profondément dans le four
ton souffle d’ammoniaque
et pour qu’il fende à jamais
ta tête de bête sauvage!
De amor e cianeto!
Não me chame para sua casa, em seu sótão,
girando – como um descuidado gira! –
os botões do fogão,
para se livrar uma vez por todas
dos uivos de lobos velhos do forno,
dos seus cabelos,
que o cultiva incessantemente nos braços,
a noite, como os furúnculos,
os cigarros profundamente em sua carne.
Não me chame para sua casa, em seu sótão,
rachado – como um descuidado rachado! –
entre as barras da cama,
na porta, debaixo da bota,
sua tíbia e sua fíbula
– Ouço estalo em meu laptop –
como se estalasse
o rifle velho de caça de seu pai,
muito pesado para que você possa carregá-lo novamente,
depois que queimara os miolos
e, tendo espasmos, arrombou sua porta
a pontapés.
Não me chame para sua casa, em seu sótão,
que eu irei!
E arrancarei meu coração do tórax,
rasgarei com os dentes
e polvilharei sal
extraído com uma picareta
de minhas glândulas lacrimais
e o arremessarei
como se joga uma pedra de moinho,
para quebrar a sua tíbia e sua fíbula,
– em pedaços pequenos! –
de modo que os empilhem profundamente no forno
seu sopro de amoníaco
e dividi-la para sempre
sua cabeça de besta selvagem!
De amor y de cianuro!
No me llames a tu casa, en tu mansarda,
girando – como un atolondrado girando! –
los botones de la estufa,
para deshacerte de una vez por todas
de los aullidos de viejos lobos del horno,
de su pelaje mudado,
que te crece sin cesar sobre los brazos,
la noche, como los furúnculos, mientras apagas
los cigarrillos profundamente en tu carne.
No me llames a tu casa, en tu mansarda,
hendido – como un atolondrado hendido! –
entre las barras de la cama,
en la puerta, bajo la bota,
tu tibia y tu peroné
– las escucho crujir en mi móvil –
como si hendieras
el viejo fusil de caza de tu padre,
demasiado pegajoso para que puedas cargarlo de nuevo,
después que se volara la tapa de los sesos
y, teniendo espasmos, rompió tu puerta
a patadas.
No me llames a tu casa, en tu mansarda,
puesto que iré!
Y me arrancaré el corazón del pecho,
lo cortaré con los dientes
y lo rosearé de sal
extraída con una pica
de mis glándulas lacrimales
y lo arrojaré
como uno arroja una piedra de amolar,
para que parta tu tibia y tu peroné,
– en menudos trozos! –
para que amontone profundamente en el horno
tu soplo de amoniaco
y para que hienda por siempre
tu cabeza de bestia salvaje!
D’amore e di cianuro!
Non chiamarmi a casa tua, in mansarda,
ruotando – come uno scervellato ruotando! –
i pomelli del gas,
per disfarti una volte per tutte
degli urli dei vecchi lupi del forno,
dei loro peli già mutati,
che ti crescono incessanti sulle braccia,
la notte, come foruncoli, mentre tu spegni
le sigarette nel profondo della tua carne.
Non chiamarmi a casa tua, in mansarda,
rompendo – come uno scervellato rompendo! –
tra le barre del letto,
nella porta, sotto l’anfibio,
tibia e perone
– li sento scricchiolare nel mio cellulare –
come se rompessi
il vecchio fucile da caccia di tuo padre,
troppo impiastrato perché tu possa di nuovo caricarlo,
dopo che lui si fece saltare le cervella
e, preso da spasmo, ruppe la tua porta
a calci.
Non chiamarmi a casa tua, in mansarda,
perché verrò!
E mi caverò il cuore dal petto,
lo inciderò coi denti
e lo cospargerò di sale
estratto con una piccozza
dalle mie ghiandole lacrimali
e lo butterò
come si butta una mola,
perché spacchi la tua tibia e il tuo perone,
– in piccoli pezzi! –
perché ammassi nel profondo del forno
il tuo respiro d’ammoniaca
e perché rompa per sempre
la tua testa di bestia selvaggia
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