Solvet et Coagula
Ao atravessar um prisma
sou um feixe de luz que se divide
sou sol vermelho
forma-pensamento
flores pretas & vetores do tempo
os deuses deram aos homens
o Fogo, a Inspiração & a Magia
da união desses três, dois lobos
filhos do sol & da lua
correndo atrás de seus rabos
revezando a noite & o dia
inventaram o Amor
uma estrela negra
atávica corda misteriosa
amarrando todos nós
o céu visto do quintal de casa
brilha mais que os teus olhos tristes
camuflados pela fumaça
de mil cigarros — os mesmos
que impregnam tuas roupas com aquele
cheiro ruim que ainda assim eu sinto
saudade & quero perto de mim
agora
o que é & o que parece ser
perderam distinção — palavra presas
penduradas em árvores esperando
pela segunda lei da termodinâmica
pra se tornarem poemas
menos organizado
vou me tornando mais frio
— estou perdendo calor
aí tudo desandou & o angu azedou
eu te imagino com um violão desafinado no colo
teus dedos finos buscando os acordes da tua timidez
puro romantismo meu — você está longe &
minha paixão por você foi só mais uma coisa banal
mas
de que vale o espaço/tempo
quando se fala de amor?
o silêncio também é um som, uma frase
uma distorção no fluxo cósmico —
detrito, dejeto de nitrito
distrito de nitrato
pequena parte da mente
sub-rotina, demônio
um pequeno circuito
o sangue de 52 universos
o calor de dez bilhões de sóis
galáxias confusas colidem dentro de mim
a mão que hidrata a bunda é
a mesma que acaricia a tapioca
vejo o fio do destino
a ordem secreta dos anjos —
sete ao todo, responsáveis
pela manutenção do tecido
que nos une ao universo
cabelo de Vênus
eu te olho & vejo toda
Beleza & Tristeza da Poesia no teu olhar
o sol no crepúsculo se recusando a morrer.
Bagadefente (Ourinhos, São Paulo, 1984). É poeta, pirata & pai; escritor, artista visual & videomaker, produtor cultural, arte-educador & por aí vai, sempre utilizando o acaso como sua principal ferramenta criativa. Seus trabalhos podem ser apreciados em nada.art.br
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