Dora de Assis escreveu os poemas que hoje se apresentam em Poesia Rouca no período de sua adolescência, sem saber, talvez, das potencialidades da sua escritura sonora que lhe percorria o imaginário e a garganta na sua infância.

Nesta obra, a autora refresca-nos a memória dos frutos maduros de suas palavras que nasceram roucas: um eu lírico inteligente, conhecedor do seu ofício, que produz uma poesia que se assemelha ao autoexílio da palavra, uma enfermidade ligeira da linguística que recusa pontos, acentos, pausas, vírgulas, para que não se trave o sentido, para que flua rápida, sensível, com rouquidão e sem ranhuras; gerando identidade, forjando sua poesia.

A obra é apresentada por Roberto Corrêa dos Santos, que afirma: Quem ousa a escrita, merece de Dora dedicatória. Já Ricardo Chacall diz que sua poesia tem vórtice.

Dora sabe que uma grande poeta é aquela que necessita criar uma linguagem capaz de expressar as suas desmesuras interiores. Em sua poesia, a latência das palavras e dores é clássica e cheia de momentos visionários, que nos deslumbra com imagens modernistas e franqueza. Lembro-me da primeira vez que li A idade da escrita, da portuguesa Ana Hatherly e refleti acerca da imagem e obscuridade do poema. Em Poesia Rouca, a imagem poética se mistura com os traços de poéticas imagens de Marina Lattuca. Dora se apresenta entoando voz em um mundo cuja beleza evanescente é capaz de pisar firmemente no chão de suas convicções e dizê-las em voz alta sem hesitação. Sem mais delongas, leia um poema Um ano atrás, do livro Poesia Rouca, de Dora de Assis, acompanhado de ilustrações de Marina Lattuca:

um ano atrás quis o distante
fui até lá e disse:
eu quero
mas o distante me engoliu sem culpa
dizem que não faço doce
quando quero doce
dizem que vou lá e pego
mas ao querer o distante eu demoro a
chegar e as vogais ficam lentas 

sempre fui das coisas de perto 

e de repente querer o distante me pareceu
de uma ousadia tímida
é ingênuo ir até o distante
esperando um sim
mas naquele momento, um ano atrás,
eu quis, acima de tudo
as verdades e pouco me importei
com a reação do distante que,
por tanto tempo, parecia
não se afetar com nada
do que eu fazia
eu quis as verdades
e fui levá-las todas nos meus braços
até o distante
que as segurou
com a educação fria dos médicos
umas quatro horas depois
o distante esqueceu minhas verdades no
banco da portaria 

eu fiquei sem som
dormi errado por dias
não escrevi nada sobre o distante
ou sobre
como eu saí de mim pra ir até lá 

hoje faz um ano de distância
e o sol vaza nas nuvens 


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Poesia Rouca
Dora de Assis
ISBN 978-65-00-01267-5

Casa Philos (2020)
com ilustrações de Marina Lattuca

Publicado por:Philos

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