A literatura se apropria das mais diferentes formas de conhecimento. Como ao longo da história muitos escritores se envolveram com o ocultismo (Fernando Pessoa, W. B. Yeats, William S. Burroughs, entre outros) é natural que o seu conhecimento do ocultismo tenha sido utilizado na composição de suas obras literárias. Como a astrologia está relacionada ao ocultismo não é de se admirar que ela esteja presenta na obra de alguns autores [1].
Contudo, devemos destacar o fato de que as relações entre a literatura e astrologia são muito antigas. Não sabemos quando ela começou, mas o poema mais antigo sobre o assunto, que chegou até nós, é o “Astronomica” de Marco Manílio [2], que foi um poeta e astrólogo que viveu no século I d.C.. Seu poema é um manual de astrologia dividido em 5 livros e é uma das fontes mais antigas sobre o assunto.
Modernamente, muitos escritores se interessaram sobre o assunto. Dentro da literatura de língua portuguesa o escritor mais conhecido é o poeta português Fernando Pessoa. Ele praticava a astrologia, tendo chegado a pensar em exercê-la profissionalmente, e confeccionou centenas de mapas astrais. Alguns deles foram publicados no livro “Fernando Pessoa – Cartas Astrológicas”, organizado por Paulo Cardoso. Ele chegou a criar um heterônimo astrólogo, o Rafael Bandaya, autor de vários fragmentos sobre a astrologia.
Outro escritor muito envolvido com o assunto foi o poeta irlandês William Butler Yeats, que esteve muito envolvido com o ocultismo, tendo participado da Hermetic Society of the Golden Dawn. Ele conhecia e praticava a astrologia e deixou alguns manuscritos sobre o assunto. Ele também chegou a tratar do assunto em sua correspondência como podemos ver, por exemplo, no volume 1 do “Letters to W.B. Yeats”, editado por Richard J. Finneran, George Mills Harper e William M. Murphy.
No Brasil, podemos destacar a figura do escritor Caio Fernando Abreu, que também se interessou pelo assunto e pelo ocultismo de modo geral. Ele escreveu o “Triângulo das águas”, que é um livro de contos (Dodecaedro, O Marinheiro e Pela Noite) totalmente baseado na astrologia. Além disso, vamos encontrar a presença do simbolismo astrológico em muitas de suas obras.
Outro que dedicou uma obra ao assunto foi o poeta, dramaturgo e compositor Vinícius de Moraes. Ele publicou a obra “A mulher e o signo”, um conjunto de doze poemas, um para cada signo, nos quais descreve a personalidade da mulher de cada um deles. Mesmo não estando entro o melhor que ele já produziu é interessante que ele tenha se dedicado ao assunto.
Por tudo o que foi dito, podemos dizer que o conhecimento da astrologia é de fundamental importância para o estudo da produção de diferentes escritores. Para que algumas obras possam ser compreendidas é preciso que o leitor disponha de algum conhecimento sobre o assunto. Consequentemente, é de fundamental importância que os críticos e estudiosos da literatura de modo geral se dediquem ao assunto.
Rodrigo Conçole Lage (Itaperuna, Rio de Janeiro, 1976). Graduado em História (UNIFSJ). Especialista em História Militar (UNISUL).
notes
[1] Alguns escritores vão utilizar a astrologia de forma mais restrita. O escritor escocês Walter Scott, por exemplo, escreveu um romance intitulado “O Astrólogo” e o escritor português José Saramago publicou um poema intitulado “Signo de Escorpião”. [2] Ele foi traduzido para o português por Marcelo Vieira Fernandes.
referências
COSTA, Amanda Lacerda. 360 graus: uma leitura de epifanias: o inventário astrológico de Caio Fernando Abreu. Dissertação (Mestrado em Letras) – UFRGS, Rio Grande do Sul, 2008.
FERNANDES, Marcelo Vieira. Manílio: Astronômicas. Dissertação (Mestrado em Letras Clássicas) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
FERRONI, Angélica. Cosmologia e astrologia na obra Astronomica de Marcus Manilius. Dissertação (Mestrado em História da Ciência) – PUC-SP, São Paulo, 2007.
HEINE, Elizabeth. W.B.Yeats: Poet and Astrologer. Culiure and Cosmos, v. 2, n. 1, 1998, p. 60-75.
LAGE, Rodrigo Conçole. Saramago e a astrologia: estudo do poema ‘Signo de escorpião’. Revista de Estudos Saramaguianos, v. 7, 2018, p. 39-47.