alvorada
Um vácuo de identidade, vaso preso na janela,
Súbito mote de infinita nobreza.
O súdito move montanhas e perde a razão,
O lúdico entorpecimento no sono da existência
Move a bruma do eterno quase ser.
Um nome é inscrito na parede (alva como a morte).
Não se distingue o conteúdo, vê-se a forma entretanto.
É longo, possivelmente longo.
Ou pode ser curto, no fim é o mesmo.
Chama pelos opróbrios, clama a manta vazia.
Sem fim, o fim se descortina
E paira sobre a alvorada.
Quantos nomes, quantos este?
Quantas razões se ramificam.
O terno eterno espera
(É terno só no fim).
Já o final chega, ou aqui já ele está.
Cinco da madrugada, trevas na avenida.
Uma moça atravessa a rua rumo ao rei.
O caminho é longo, uns diriam eterno.
Quantos dias antes de fazer-se o dia?
Morto um corvo, vivo um homem,
Cinco horas de hoje, poderia ser 1500.
O quintal recebe visitas,
O jardim está em pândega.
A festa vara a noite
E o dia nunca chega.
A moça caminha silente,
Receosa assente.
Sem tino ou átimo,
É toda noite íntima e sempre.
Cinco da manhã, repete intermitente
A mesma ladainha crente
Que no fim não leva a lado.
E o asfalto se dissolve em lama
(Poderia ser 1500)
A mão se desfaz em dogma,
É sem fim e sem mau e sem bem e sem norte.
Ítalo Sampaio (Recife, Pernambuco, 1992). Jurista e escritor.