sussurros ao vento
pra onde foram os beijos,
os abraços e os amores
que ontem nos arrebataram
e não voltam nunca mais?
onde se esconderam todos
os que vieram e ficaram
tão nossos, tão vivos, tanto,
agora quase irreais?
pra aonde vão essas coisas
que se perdem pela névoa,
tragadas por vendavais?
vão para junto das naves
que naufragaram nas nuvens
sem jamais chegar a um cais..
anatomia da ausência
– brincando de mim –
Escrevo meu nome, de um jeito perfeito,
coloco a data e o local de nascimento
e isso não diz quase nada a meu respeito.
Depois, me fotografo diante do espelho
e, em todas as fotos e todos os ângulos,
nenhuma imagem me mostra por inteiro.
Com todas as letras, eu digo o que penso,
as minhas verdades, no tom mais sincero,
mesmo assim, não sou meu eu mais verdadeiro.
E, sabendo que jamais me encontrarei,
sigo a brincar de buscar alguém em mim
que quer ser livre e viver o que eu não sei..
Cairo Trindade (Rio Grande do Sul, 1948). Gaúcho que reside no Rio de Janeiro desde 1968. Autor de 5 livros e várias antologias e prêmios nacionais, dirige uma oficina de criação literária. Poeta, professor e editor, dirige a Oficina de Criação Literária desde 1994.
Um comentário sobre ldquo;neolatina: dois poemas de Cairo Trindade”
Os comentários estão encerrados.