poeta amarelo

nasceu estranho
e virou piada
mas era bom demais
pra ser apenas piada
no fim das contas
virou poema
e morreu estranho

sem rima,
sem nada.

da natureza

recorto um jornal
afio uma faca
amarro um cadarço
pinto uma parede

e então percebo
que todos poemas
de alguma maneira
deveriam soar simples

assim.

no frescor da doença

tornou-se
retardado
mentol.

sobrevida na poesia

penso que estamos
tão próximos
da morte, e vejo
que ambos, assim
simplesmente
não nos importamos
mais

e isso é muito bom
se você não parar
pra pensar na vida
sem esse outro
alguém, que parece
assim como você
não se importar
com nada ou com
ninguém.

epitáfio anoréxico

vítimagrela

de um inferno ao outro

antes eu sempre sabia
quando o capiroto me espreitava.
agora vivo na dúvida: é ele
ou a debochada da minha vizinha
outra vez
de tamancos
novos?

tragédia auditiva

um monte de gente
falando o tempo todo
sem dizer porra

nenhuma.

pergunta quente

“então é assim
que começa o começo
do fim?” – me pergunta
o cigarro já em meus lábios
embora que ainda
apagado.
como responder
tal pergunta? não sei!
inicialmente brocho
e o cigarro pende
para baixo – obviamente
mas em seguida
minha mente ausente
se faz presente
tentando não soar doente
frente ao indagador
cigarro quente..
em vão, eu até tento mas
mais uma vez me calo
e o calo, fumando
-lhe até
o talo.


Eduard Traste (Florianópolis, Santa Catarina). Descobriu que não tinha salvação. Desde então vem destilando os necessários pingos de vida para seguir em frente, de seus escritos e outros tragos. Diariamente compartilha alguns de seus poemas, junto com outro camarada, no site: estrAbismo.net

Publicado por:Philos

A revista das latinidades

Um comentário sobre ldquo;Neolatina: Mostra de poesia lusófona, por Eduard Traste

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