Um lugar
Aquela construção que ali existia
Erguida sobre pilares de alguma profundidade
E sob ultrapassadas ideias de mundo
Como em suas portas e janelas ultrapassava
Este mesmo vento de balançar cabelos
Bagunçar as coisas
Ali onde agora o sol estala ruidoso
E o mato irrompe o que restou de concreto
Essas portas e janelas e retratos de toda sorte
Saídas e entradas que davam e dão
Para o que pode ser considerado sim um lugar
Um lugar
Entre o que implodiu e o que se erguerá
Um lugar ainda que lembrança ou potência vaga
Um lugar ainda que ínfima demarcação
Um lugar que agora habilita o vazio e o tempo
E os habita
O vazio e tempo
De um lugar serão sempre um lugar
O vazio e o tempo
Estes prédios uma vez modernos
Desta vez antigos
Desta vez perdidos
Estes grandes casarios, vá lá
Esta outrora
Que ainda ostenta um querer imponência
Ali, bem ali
Onde houve vida e parede circunscrita
Parede que algum romântico quisera memorável
Porque carcomida
Quando ele mesmo o romântico
De não a olhar demorado já a esqueceu
E que pela circunstância independente
De ser ou não poeta
Ser ou não fotografia, é ruína
Ruína
E ilumina porque é breu
Logo ali
Leandro Jardim (Brasil, 1979) escreve poesia, prosa e letra de canção. Publicou, dentre outros, a novela “A Angústia da Relevância” (Oito e Meio, 2016) e as coletâneas de poesia “Peomas” (Oito e Meio, 2014) e “Todas as vozes cantam” (7Letras, 2008). Em parceria com Rafael Gryner, lançou os discos “O Sonhador” (2014) e “Sementes musicais para um mundo cibernético” (2011). Também possui canções com artistas como Diogo Cadaval (banda Mocambo), Clara Valente e Matheus VK. Reúne suas demais publicações em antologias e coletâneas no link: leandrojardim.blogspot.com.br
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