Mulheres desbravadoras
Com seus Joões, apearam as Marias,
Crendo na promessa de futuro radiante,
Quiçá um afável oásis? Quiçá a alforria?
Diferente da terra natal, ora distante.
Com júbilo e propósitos, toda a família,
Carregou o que pôde no caminhão. Avante!
A roça, a casa, em busca de novos dias,
Venderam, trocaram, para seguir adiante.
As preciosas mulheres chegaram à Vila,
Com simplicidade em seu trajar rural.
Com tantos afazeres e modestas lides,
Sentiram, noite e dia, a carga desigual.
Antes mesmo do despertar da prole,
Lavada, no braço, toda roupa no varal.
Sotaque italiano na saudosa melodia,
Lançada ao vento, em salva matinal.
Preconceitos, trabalho, um pesado fardo,
Compunham o novo cenário das pioneiras.
Desde a vassoura, a enxada, o machado,
E lenha lascada para o fogão, à sua maneira.
Nos intervalos do afã, a alegria da colheita,
O chimarrão, a pipoca, em tardes fagueiras.
Sentavam-se as vizinhas trocando receitas
Abaixo das árvores, à sombra de amoreiras.
Delegavam à sorte os riscos da gravidez,
Longe do olhar de suas mães e das avós.
Os filhos vieram à luz, todas as vezes,
Pelas mãos de parteiras, de pouca voz.
As desbravadoras herdaram a ordem
De atender ao homem, sem lamentos.
Na saúde, na doença, por todas as horas,
Segui-lo com os filhos, era o pensamento.
Foram acalentados os tantos moradores,
Pelo feito grandioso do exército feminino.
Aplausos às mulheres, mães desbravadoras,
Protagonistas da história contada no ensino.
Com justa imortalidade e leal reverência,
Deixaram fortes marcas de audácia e refino.
Constando em ricos anais, cada veterana,
Consentiu dos legados, o mais genuíno.
Àqueles que ficaram no berço amado,
No peito, feito dor, o último abraço.
Deixaram para sempre o coração marcado
Pelas raízes, pela história de tantos passos.
Miriam Krenczynski (Toledo, 1951). Membro do Clube da Poesia e fundadora da cadeira 14 da Academia de Letras de Toledo.
Um comentário sobre ldquo;Neolatina: Mostra de poesia lusófona, por Miriam Krenczynski”