FURO
se expulsar daqui
o que é meu
sobra tanto quanto esperava encontrar
nas grossas dobras
que mascaravam
a finura feia
e longa
se expulsar daqui
o que é meu
restam agulhas fios vãos e
arames
querem bem
até surgirem todas
as pontas
REVERSO
inverte-se todo
:a cartilagem exposta
como feridas feitas
por si só
CONSTRUÇÃO
curvas cruzadas
por linhas fortes
como os desenhos abstratos
das vanguardas
soviéticas
incompreensível
o rosto é incompreensível
senão por jogos
matemáticos
estrangeiros
a geometria não explica
os anos passados no colégio
católico
ou a maneira de estalar a língua
feliz
mas traça fundo
como uma equação
de resultado
imprevisto
impossível
é impossível desenhar o rosto
sem se tornar
forma
(Moscarda já
intuía)
Arthur Lungov (São Paulo, Brasil). É poeta e editor de poesia da Lavoura, revista de literatura contemporânea. É autor dos livros Luzes fortes, delírios urbanos (Patuá, 2016) e Corpos (inédito). Foi publicado em coletâneas e revistas literárias nas revistas Mallarmargens, Ruído Manifesto, Raimundo, Gueto, O Casulo, Poesia do poeta etc.). Foi curador convidado da Casa Philos na FLIP 2018.