Nós mentimos para conquistar. Criamos uma verdadeira farsa que tem por único objetivo ser bem-sucedido, vencer, ganhar a garota. Subitamente, somos o cara legal, sorriso constante nos lábios, garotos propaganda da Colgate. Nós ouvimos e ouvimos e ouvimos: assumimos o papel de verdadeiros psicólogos. E dizemos o que deve ser dito. Se erramos nas palavras, não as pronunciamos mais. Tudo, absolutamente tudo, está voltado para o agrado, para obter a atenção e manter a atenção, para sustentar o sorriso e a satisfação delas. De repente, somos tão compreensíveis – até mesmo com ideias equivocadas, teorias medonhas, mentiras que tratamos como verdades – tudo para agradar, lógico. E estamos de alto astral, fazemos piada, arrancamos risos. Nunca se viu ser humano mais perfeito do que o homem que quer conquistar. Ele aposta todas as fichas nas jogadas conhecidas, nas abordagens infalíveis. Sabe jogar o jogo. E o jogo é a mentira desvairada. O jogo é nunca se revelar, ao contrário: é construir a imagem que o outro quer que lhe seja apresentada. Nossa habilidade tem um quê de improviso, vamos acertando o passo à medida que conhecemos a pessoa, porque, há de se convir, nem todo mundo é igual. Uma vez criada a imagem que a conquistou, você passa a “ser” essa imagem. Aí começam os problemas. Porque você não quer rir o tempo todo, nem agradar o tempo todo, nem concordar o tempo todo, nem representar esse papel de gentleman sua vida inteira. E você percebe (pasme!) que também conquistou uma imagem. “De repente, não mais que de repente”, tem quatro pessoas nesse relacionamento. Poderia dar uma boa orgia, mas a verdade é que fisicamente só existem duas pessoas que se sentiram atraídas pela imagem equivocada da outra. E o troço certamente vai desandar. Ah vai! Tudo bem, estou sendo pessimista. Há pessoas que se amam e que procriam, e temos que agradecer a elas por isso – senão, não estaríamos aqui. Não sei como isso se dá, confesso, mas acontece. Talvez seja possível sermos nós mesmos… O que isso significa? Só Deus sabe. Talvez melhor fosse que as pessoas se conhecessem, antes de tentar esses relacionamentos em alta velocidade típicos de nossa era globalizada, dominada pela internet e pelas pseudosociais redes sociais. Não sei… Estou a divagar mais uma vez. Talvez eu é que não saiba amar, ou não saiba o caminho – se existe – para encontrar amor em vez de mentira; profundidade em vez de superfície. Encontrar o ser de outro, e não seu corpo, seu riso, ou a farsa que me cria no instante, a armadilha ingênua na qual estou cansado de cair.
Bruno Macêdo Mendonça (Recife, 1979). Doutorando em Línguas Modernas na Universidade de Coimbra, Portugal. Colunista da Revista Philos, onde assinou com o pseudônimo Caio Lobo. Autor da coletânea de contos “Trôpegos visionários” e do romance “Liberdade”, lançamentos da Editora Kazuá. Premiado nos concursos SFX de Literatura e José Cândido de Carvalho, edições de 2016.
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