1. senti o gosto do infinito.
esse sabor invadiu minhas narinas e como um bicho faminto percebo a possibilidade do veneno. me inclino. atinjo dobraduras inéditas, elásticas.
sei que posso ir mais longe.
há paraísos escondidos, porém próximos.
mirantes esplendorosos me curvam. meus poros já penetrados reconhecem veneno como elixir. há a dor
e muito prazer, típicos dos alongamentos.

2. desbravar os mistérios do corpo. me aprofundar
na ciência íntima e sensorial. dentro fora. fora dentro. descobrir o percurso do rio da vontade, a nascente do rio do incomodo. desvendar a própria linguagem. o corpo dialoga o tempo todo, você sabe o que ele quer dizer?
a língua nunca precisou aprender língua nenhuma.
a língua só se interessa, a fundo
pelo idioma do prazer.

3. o idioma da liberdade
saltou da minha boca
por inteiro

4. pra sufocar um vendaval violento
ambas as mãos
alguma distancia
o tempo
após mais uma tentativa de estrangulamento em vão
esse cheiro de litoral do seu pescoço
não quer abandonar minhas mãos
aguardo impaciente
(cheirando os dedos)
a sua morte no meu peito
ou um barquinho que me leve praquela ilha?
sufocar o vendaval
sempre será
incompleta asfixia
merda de maravilha

5. Há alguns dias encontrei um mosquitinho boiando no mate.
logo pensei:
foi com muita sede ao pote
então desconcluí:
mas pelo menos
morreu de amor

tem o mapa do meu corpo eu sua boca


Hildebranda é multiartista e curadora da mostra Paixão Mordente, carro-chefe da Philos #35.


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Publicado por:Philos

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