Há mais de 520 anos os povos originários do Brasil tem lutado bravamente pela sua sobrevivência. Estou falando de sobrevivência. Sim, estou falando da preservação de um bem, de um direito fundamental, o direito à vida, que nos é negado desde o brutal processo de colonização da América Latina. Muitos de nós foram exterminados nessa luta injusta, desigual e sangrenta. Somos os sobreviventes desse processo, representantes dos milhares de indígenas assassinados, de povos inteiros massacrados, varridos da história, em nome do que chamam hoje de desenvolvimento.
Em tempos de pandemia, o Coronavírus tem sido a atenção máxima de todos os veículos de comunicação, enquanto nos territórios indígenas a violência se multiplica. Estamos vivendo um cenário de guerra, com entradas de madeireiros, garimpeiros, caçadores, mineradores. Lideranças indígenas estão sendo brutalmente assassinadas, autorizados por um governo fascista, conduzido por Jair Bolsonaro, que deveria ser visto com temor não só por nós povos indígenas, mas por todo planeta, por incentivar a exploração e violência genocida.
De 2000 a 2018, foram mortos 80 indígenas Guajajara da Terra Indígena Araribóia. Somente nos últimos cinco meses, cinco lideranças foram assassinadas, notadamente: Paulo Paulino Guajajara (1 de novembro de 2019), Firmino Prexede Guajajara e Raimundo Benício Guajajara (ambos no dia 7 de dezembro de 2019) Erisvan Guajajara (13 de dezembro de 2019) e Zezico Rodrigues Guajajara (3 de março de 2020). Fora outros milhares de assassinatos de lideranças dos diversos povos espalhados no Brasil profundo.
Nossa pergunta é: Até quando teremos que morrer para que o nosso direito de continuarmos vivos seja respeitado? Queremos continuar existindo, e hoje essa reivindicação fundamental diz respeito a todos. Quando um indígena morre, morre junto a chance deste planeta de continuar existindo. Morre com ele a possibilidade de deixarmos um planeta habitável, com água, terra e natureza para as próximas gerações. Esses crimes, como milhares de outros, atentam contra o direito à vida de todos nós.
Basta de genocídio! Basta de derramamento de Sangue Indígena! Estamos aqui para mostrar que não vamos nos calar. Para cada guerreiro que tomba outros mil se levantam! Não estamos aqui para pedir, estamos aqui para afirmar a nossa existência e não vamos nos calar: Sangue Indígena, Nenhuma Gota a Mais!
Erisvan Guajajara é ativista defensor de direitos dos povos indígenas, fundador da Mídia Índia. Suas publicações podem ser encontradas também em seu perfil pessoal no instagram.