A inclusão das perspectivas de “fora do quadro” permeia a estreia da ArtSampa, na OCA, em São Paulo. Aliás, esta tem se tornado uma estratégia importante de Brenda Valansi e sua equipe quando se trata de promover feiras de arte no Brasil. Há onze anos à frente da ArtRio e trabalhando incansavelmente pelo mercado e pela promoção de experiências com as várias expressões artísticas contemporâneas; essa grande entusiasta tem viabilizado uma maneira única de comunicar através das artes.
Em sua primeira edição, a ArtSampa apresenta obras e projetos especiais em diferentes suportes e mídias, seja pelo empenho dos galeristas e colecionadores em mostrar as novidades de suas coleções, seja pela necessidade do diálogo da arte com as questões contemporâneas que nos permeiam.
“Chegar a São Paulo no ano do centenário do movimento modernista é muito emblemático. Temos como compromissos a valorização da arte brasileira, o estímulo a novos artistas e o reconhecimento da arte como forma de expressão da sociedade e sua cultura. Mesmo com a crise atual em vários âmbitos, este mercado brasileiro é capaz de acomodar de importantes artistas a jovens talentos nacionais. A ArtRio sempre acontece em um ambiente agradável, que possibilita novas conexões e muito networking para o público, galerias e artistas. Além dos espaços das galerias, temos editoras [como a Philos], com lançamentos de livros, um ciclo de palestras presencial e online, performances e festas, criando uma experiência diferenciada de feira.” – Brenda Valansi
A produção de arte que inicialmente era restrita aos moldes clássicos de pintura, fotografia e escultura, compõe-se hoje de grandes quadros de dimensões e bytes inimagináveis, onde os trabalhos visuais misturam-se com imagens, pinturas, vídeos, gifs, fotografias, sons e elementos que parecem surgir de dentro de um plano único e diverso.
Nosso destaque vai para a belíssima coletiva “A transição é coletiva”, promovida pela Casa Chama, uma pré-galeria de artistas não-cisgêneros, que dialoga sobre a participação de pessoas trans nos circuitos e espaços institucionais do sistema de arte. Para a curadoria da mostra: “É nas margens e centros que tais produções habitam e se potencializam em visões que permeiam futuros, imaginações possíveis, impermanências e eternidades”. Ainda destacamos o Ateliê TRANSmoras, uma plataforma criativa e laboratório de tecnologias travestis.
A democratização nas artes é sempre um trabalho presente na ArtRio e não poderia ser diferente aqui em São Paulo. O apoio às instituições é muito importante para o desenvolvimento de projetos e ONGS como o Instituto Vida Livre, que ampara e cuida de animais em estado de vulnerabilidade; a Rede NAMI, uma rede de artistas que usa as artes urbanas para promover os direitos das mulheres; o Instituto Inclusartiz, capitaneado por Francis Reynolds, que promove assistência, diálogo e integração entre arte, artistas e educação; e a própria Casa Philos, com seu espaço editorial e institucional. Para a jornalista Renata Jordão: “Eu trabalho com arte há muito tempo e, para mim, têm sido as instituições que, verdadeiramente, estão nos apresentando o que é arte”.
A Philos, seja pelo ativismo ou pela metáfora, provoca nesta listagem, reflexões sobre como estruturamos as bases sólidas de nossa arte e poética de artista pautadas nas questões subjetivas do criar. Para nós, a ArtSampa tem mostrado uma reafirmação do compromisso de seus criadores com a tradição associada aos valores modernos. Múltipla, máxima, mas nunca comum. Sem mais delongas, eis aqui os nossos 25 destaques das melhores obras da ArtSampa 2022:
- RV Cultura e Arte, com destaque para a obra de Isabela Seifarth.
A obra nos traz uma releitura moderna, vibrante e colorida de uma realidade dura e colonizatória. Criada através de pesquisas no Recôncavo baiano, Isabela faz referência a uma fotografia encontrada no arquivo público da cidade de São Félix, na Bahia, onde se lê “Chegada do navio Paraguaçu em Cachoeira, 1986”. - MT Projetos de Arte, com a louvável expografia incluindo as obras de Jota, Heitor dos Prazeres e Gervane de Paula.
Destacamos aqui a excelente expografia do MT Projetos de Arte, e as cores usadas no stand como um todo. Ressaltamos ainda as novas obras do artista Jota, em especial o quadro “Desde novo ando correndo” (2022), com uma pintura mais madura e impactante que nos leva a reflexões mais atentas de cada pincelada. - Yaak Galeria, com a exposição Samba Cripto A1.
Os NFTs fazem parte dos novos processos de arte e finanças no mundo, nada mais ousado e necessário que a Yaak Galeria para ilustrar a transformação que estamos vendo acontecer no globo como um todo. Com uma cartela de obras conectadas ao carnaval carioca, causou interesse até nos olhares mais desinformados. - OMA Galeria, com destaque para as obras de Andrey Rossi e seu Manicômio.
As pinturas hiper-realistas do artista Andrey Rossi nos levam a uma inquietação. Um mundo pós-apocalíptico onde o abandono e a transformação causada pela natureza são personagens principais dessa narrativa. - Rede NAMI com a exposição de A mãe tá On, de Priscila Rooxo.
Irreverente e necessária, “A mãe tá On” é uma coleção que nos conta uma história sobre feminismos e protagonismos da mulher. As novas linguagens meméticas alimentam esse fluxo criativo cada vez mais presente nas artes e diálogos. Um deleite! - Galeria Bolsa de Arte, com destaque para a obra André Severo, de sua coleção Academia.
Academia é uma linda coleção de estudos e desenhos de André transformadas em uma narrativa. Os papéis unidos de forma simples trazem uma elegância única para a peça. - Hilda Araújo Escritório de Arte, com a obra de Jacques Douchez.
Sempre impressionantes, as tapeçarias de Jacques fazem parte de um viés clássico das feiras de arte, e figuram na lista de artistas consagrados que podem ser apreciados apenas nesses momentos. - Central Galeria, com a obra de Rodrigo Sassi.
Uma parede composta pela ressignificação de fragmentos metálicos com ênfase para o movimento e dispersão das peças que estão na parede. Lindo projeto de Rodrigo, um deleite aos olhos. - Potência Ativa, com obras de Martín Lanezan.
Martín nos surpreende com um belíssimo painel em tecido trazendo novas texturas e fantasias. As onças costuradas e o ser ao centro fazem parte de uma realidade fantástica única. - Gaby Índio Arte Contemporânea, com a obra de Rosângela Dorazio, Escorrido.
A aquarela como técnica sempre é sobrepujada em processo de vendas, mas essa artista nos abala com uma nova texturização com pigmentação em café. - Solar dos Abacaxis, com a obra Caminho na Canoa, de Gustavo Caboco.
- Instituto Inclusartiz, com as obras de Xadalu Tupã Jekupé.
- Potência Ativa, com as obras Hunahpú e Xbalanqué, de Herbert da Paz, da série Memória Ancestral Memória Ancestral.
- Artistas Latinas, com a obra Jardim pra Erê (2021), de Monica Ventura e Barbara Milano.
- Galeria Bellas Artes, com Cristina Nicotera e sua obra As escolhas que fizemos e o que deixamos para trás.
- A7MA Gallery, com destaque para as obras de Rafael Hayashi.
- Galeria Lume, com a obra do artista Eduardo Coimbra, da série Entreabertos horizontes #1 #2 #3.
- Lona Galeria, com destaque para o artista Gabriel Torggler e sua obra Suvenir.
- Dila Oliveira, e a obra As escafandristas, de Sônia Mena Barreto.
- A estreante Galeria Asfalto, com obras de Allan Pinheiro.
- Galeria Contempo, com as obras de Thiago Molon, TARM, em suporte de papelão.
- Gisela Projects, com as obras da artista Melissa Dadoorian e destaques especiais para os trabalhos: Soft Geometry No14, No15 e Said Boob.
- Martha Pagy Escritório de Arte, com destaque para a obra de Regina Silveira, Featherduster (2005), de sua série Derrapagens.
- Galeria Bolsa de Arte, com a artista Jeanete Musatti e sua Corações Prensados.
- Galeria Silvia Cintra e Box 4, com Nelson Leirner e sua galinha em Homenagem a Fontana.