A nova exposição da Anita Schwartz Galeria de Arte — Dialetos do Firmamento —, apresenta obras dos artistas Bonikta, Ivan Grilo, Jeane Terra, Rochelle Costi, Shen Özdemir, Thiago Costa e Zé Tepedino, que abordam diferentes cosmovisões, mundos inventados, o encantamento e os mistérios que transitam entre o céu e a terra.
Por meio de suas linguagens e modos sensíveis de compreensão, os trabalhos dos artistas de “Dialetos do Firmamento” constelam imaginários, desenhando novas direções para modos plurais da existência, integrada à imensidão dos poderes ocultos do universo.
A exposição será aberta no dia 2 de março de 2023, às 19h, por um cortejo-performance com oito bandeiras desenhadas e confeccionadas pela artista belga de origem turca Shen Özdemir, em sua primeira visita ao Brasil, e a participação de seis músicos integrantes do tradicional Céu na Terra.
A mostra inaugura o programa de 2023 da galeria e convida o público a imaginar novas possibilidades de cuidar de um futuro ancestral, em conexão com o campo da arte e da espiritualidade, construindo percursos e diálogos entre manifestações divinas e profanas. O projeto de um Brasil inventado é revisto pelas potências do intangível, as expressões primárias e as subjetividades da memória, atravessando o tempo e o espaço visível-invisível do mundo moderno organizado pela racionalidade.

Bonikta (Caio Aguiar), nascido em 1996, em Ourém, Pará, e radicado em Salvador, estará na exposição com as fotografias “Kurumins do Rio” (2023) e “Ygarapé das Bestas” (2023). Sua produção que desenha um universo encantado inspirado no imaginário ribeirinho amazônico, reflexos de vivências que traçam travessias entre o interior e a cidade, entre a rua e a floresta. Bonitka se dedica a processos de criações e encantarias em diversas linguagens e tecnologias, do grafite, lambe-lambe, ilustrações, pinturas, fotografias, vídeos, animações, tatuagens, máscaras a desenhos digitais, entre outros. Bonikta é bicho que vira gente e gente que vira bicho. Atualmente ele é estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Artes na UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia).

Ivan Grilo (1986, São Paulo) mora em Itatiba, São Paulo, e tem sua produção reconhecida no circuito da arte a partir de seu interesse em investigar tradições orais, ou pesquisar história brasileira a partir de arquivos públicos. A escrita é um elemento importante em seu trabalho, de várias maneiras, e na exposição a obra “Fazer juntos um trecho de céu no chão” (2022) traz a frase entre linhas, em bronze.

O tríptico “Santuário do Sertão” (2022), uma monotipia feita sobre pele de tinta – material desenvolvido pela própria artista – foi criado a partir da vivência de Jeane Terra no final de 2021 nas cidades baianas inundadas pelo Rio São Francisco em 1970, para a criação da represa de Sobradinho. A obra retrata, a partir de um registro fotográfico feito pela artista, a Igreja de Santo Antônio, do século XVIII, na margem do rio em Pilão Arcado. Jeane Terra nasceu em 1975 em Minas, e é radicada no Rio de Janeiro.

Rochelle Costi (1961-2022), artista atuante em exposições no Brasil e no exterior, deixou um legado poético de sua coleção amorosa de registros do que a cercava – objetos, paisagens, cenas do cotidiano. Sua obra que integra a exposição “Escada Palavrada –Céu” (2014), em jato de tinta sobre papel de algodão, é também uma homenagem a ela.
A artista belga de origem turca Shen Özdemir (1996) criou um universo de carnaval a partir das lendas de gigantes, na Bélgica, e das marionetes da Turquia. Na série de trabalhos Karnavalo, sua intenção é criar uma comunidade humana internacional através do sincretismo cultural. Seu carnaval é composto por uma multidão de trupes, concebidas como núcleos familiares, ressaltando a ideia de parentalidade, e seguindo a tradição das alegorias dos desfiles de carnaval. Suas “cabeças” nos lembram, entre outros personagens de festas populares, os tradicionais Bonecos de Olinda. Criadas com espuma, papel, tinta acrílica, gesso e tecido, duas obras “Cabeças” (2023), que representam metaforicamente dois membros de uma mesma família, sem definição de gênero ou faixa etária. Com a participação de integrantes do Céu da Terra, será a primeira vez que os desfiles feitos por Shen Özdemir com seu carnaval imaginário terão música. O conjunto de bandeiras do cortejo integrará a exposição.
As esculturas-ferramentas “Exercícios para suspensão” (2022) – solda sobre vergalhão, do paraibano Thiago Costa (1994, Bananeiras, residente em João Pessoa), faz parte de sua pesquisa da escrita em relação com a imagem a partir das filosofias Bantu e Yorubá. “O gesto de assentar e seus métodos fazem parte de saberes milenares onde se acessa as temporalidades do que é intencionado, que possibilita comunicação e relação da forma com o corpo”, diz. Ele investiga a relação das formas com as corporações e incorporações. Thiago é um dos artistas convidados para a próxima edição impressa da Philos de verão 2023.

Na instalação “Sem título” (2023), em madeira, nylon, tecido, areia e pedra, o artista carioca Zé Tepedino (1990) dá seguimento à sua série “Vários verões”, em que objetos de praia são destituídos de sua função original, e ao serem desmembrados e rearranjados são pensados a partir de cor e forma.
Serviço: Exposição “Dialetos do Firmamento”, de 2 de março a 15 de abril de 2023 na Anita Schwartz Galeria de Arte, Rua José Roberto Macedo Soares, 30, Gávea, 22470-100, Rio de Janeiro. Abertura: 2 de março de 2023, às 19h. Cortejo-performance: concentração às 18h30, na Praça Santos Dumont, na Gávea. Entrada gratuita