“O fundo é você distorcido. Você que não se vê e continua agindo impulsivamente. O fundo é a incompreensão a respeito de quem se é e do que se quer. Na embriaguez você some e só o autônomo age. O problema é a necessidade do autômato de afirmar-se, quando o humano em você é – ou pretende ser – mais presente. O humano quer erguer-se às alturas e você o reprime com impulsos animais. Uma vez aliviados, a contradição revela-se fonte de sofrimento: o abismo entre o que se é e o que supostamente se deveria ser. Essa cisão, você a constrói, destrói e reconstrói ao contato dos outros, que te moldam. Você lhes apresenta o reflexo de si mesmos para que possam aceitar-se e para que você se sinta aceito. O único caminho para a liberdade é a ruptura, a aceitação irrestrita do ser que se rebela e que deseja romper as estruturas rígidas nas quais está inserido. Nenhum progresso ocorre sem dor e sofrimento. Avançar significa sacrifício de ideais deturpados, de projetos alheios. Evoluir é destruir-se por partes, abandonando excessos e mentiras. Equilíbrio é compreensão das reais necessidades do espírito, e descarte do supérfluo. Voltar ao centro abandonando a periferia da alma. Periferia que é mente. ‘O fardo é leve’. Quando perceberes que carregas o mundo e o tempo, passado e futuro, e que as costas não suportam o peso, a bagagem cairá na estrada, como fruta madura. Caminharás forte. As placas no percurso não chamarão tua atenção.”


Caio Lobo (Recife, 1979). Colunista da Philos, é formado em Direito pela UFPE e Mestre em Relações Internacionais pela UnB. Leitor compulsivo e romancista, lançou recentemente seus livros Trôpegos Visionários e Liberdade pela editora Kazuá.

Publicado por:Philos

A revista das latinidades

Um comentário sobre ldquo;Da voz que apelidei Sidarta, por Caio Lobo

O que você achou dessa leitura?