Apropria e vai sambar
O chefe da folia pelo telefone manda me avisar
Que com alegria não se questione para se brincar
O chefe da folia pelo telefone manda me dizer
Que há em toda parte cerveja Fidalga pra gente beber
O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar
Que na Carioca tem uma roleta para se jogar
O chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na Praça Onze tem um videopôquer para se jogar
O chefe da milícia pelo zap zap manda eliminar
Nossas ativistas, nossa previdência e o nosso sonhar.
Tartaruga, lira, tripas, chelys, guitarra, alaúde, pêra, ready-made
I
Uma casca de tartaruga
fechada com couro de boi,
tendo como cordas as tripas
de um carneiro esticadas: assim
era o antepassado mais remoto
do violão, na Grécia de 2000 a.C.
II
Foi este rústico
instrumento chamado chelys
que, com o passar do tempo, transformou-se na lira –
que, por sua vez,
ganhou o nome
de guitarra romana durante o Império dos Césares.
III
“Esta versão do instrumento
praticamente desapareceu
com a decadência de Roma”, afirma Maurício Monteiro, musicólogo do Departamento de História da USP. “Mas ele ressurgiu, bem mais parecido com o violão atual,
na Arábia do século 8,
quando foi acrescentada a caixa
de ressonância
em forma
de pêra”.
A mensagem de garrafa que passou 132 anos no mar
Para Jacques Carelman e sua cadeira de balanço lateral
Tonya Illman se deparou com a garrafa
enquanto caminhava
pelas dunas de uma praia isolada
no oeste da Austrália.
Seu marido, Kym Illman, disse
que eles encontraram um papel na garrafa,
mas “não tinham ideia” do que se tratava
Até que levaram o achado
para casa e decidiram queimar
a mensagem
no forno.
A garrafa está no centro
Da mesa da sala
Às vezes o gato passa bem
rente dela
Mas nunca a derrubou.
Uma vez especulou-se vê-la se mexendo, tal qual um pêndulo
Cogitaram sequelas de sua deriva histórica pelo mar.
Diego Pansani é autor do livro O amador (Urutau, 2018). Os poemas acima fazem parte do seu segundo livro, Nenhuma Poesia (7letras, 2019), contemplado pelo ProAC, e será publicado em outubro de 2019. Tem textos publicados nas revistas Escamandro, Ruído Manifesto, Revista Arcádia, Revista Lavoura.