não é doce morrer no rio Doce
quando o próprio rio morre de si

morre do barro na marra do berro
da barragem que abreviou sua morte

de que birra é feita esse barro
de que lama se extrai esse ferro

que achocolatado corre ao sabor de
arsênio chumbo nitrato de prata & bário

mata a água que deságua em cloreto de
cobre zinco manganês mercúrio – e cromo?!

é rosa espúrio, mas o bom cabrito não berra
o que sai do garimpo não nega a terra

água da vida nasce em samarcas garrafas
quem bebeu o Doce nem sequer regalou-se

há uma luta insana entre a lâmina da lama lúgubre
e as ondas que clamam ar junto ao mar oceânico

o cortejo fluvial chega arrosado ao atlântico
roda minério no rumo que o vento o levar

a sílica com sua liga cínica faz da lama
coagulante tijolo flutuante – é sóda!!

a vila parou pra ver a lama chegar e chorou
o chorume mineral vomitado nas águas do planeta

uma flor sobrevive ao barro na contracorrente
incorruptível do brejo do pântano da lama humana


Luis Turiba nasceu em Recife, Pernambuco. Fundou e editou, a partir de 1985, , a revista de poesia experimental BRIC-A-BRAC, até 1991. Fez parte do grupo de poetas OIPOEMA com Nicolas Behr e Cristiane Sobral; e recentemente no Rio de Janeiro organizou a performance “De(zen)caixote Poético”,  quando levou mais de 20 livros de poesia contemporânea para a Biblioteca Comunitária da Prainha, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Publicou os livros de poesia Kiproko, Clube do Ócio, Luminares, Cadê?, Bala e Qtais, e o livro artesanal Inocentes Eróticos em parceria com Luca Andrade, sua companheira. Está para publicar o inédito DESACONTECIMENTOS, em novembro/2018.

Publicado por:Philos

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