tradução de Ligia Muniz Polignano Côrtes
Meu nome é Monique, e eu sou metade porto-riquenha, metade cubana. É fácil ser porto-riquenha, como a maioria de meus amigos, mas não é fácil ser cubana. Quando digo às pessoas que sou metade cubana, algumas se fazem de tolas e afirmam: “então, você é comunista”. Isso realmente me irrita. Às vezes, quando estou em turmas onde um professor está falando de Cuba, esperam que eu saiba tudo só porque tenho ascendência cubana. Sei algumas coisas sobre Cuba, mas não detalhes, como um poema específico que alguém escreveu em Cuba durante a Guerra Hispano-Americana, ou os nomes de cada cidade de Cuba.
Uma das melhores partes de ser cubana são as histórias que minha avó me conta sobre Cuba. Quando meu pai, quase aos dez anos, aprendeu a dirigir um jipe. Quando ela tinha uma laranjeira atrás de casa. E quando ela costumava ir à padaria, na infância, com o irmão, para sentir o cheiro dos pães e observar como eram feitos. Essas pequenas histórias me fazem querer, cada vez mais, ir para Cuba, especialmente quando minha avó me conta que a água é muito azul e cristalina e as praias arenosas são muito bonitas. Um dia, já adulta, irei para Cuba.
Às vezes, é bem divertido ser hispana, porque tenho a pele muito clara; então, pareço americana (“branca”, como, às vezes, dizem os hispanos). Um incidente ocorreu quando eu estava numa loja. A moça do caixa conversava com a amiga em espanhol e dizia coisas do tipo: “olha aquela ‘garota branca’, parece tão esnobe, não gosto do jeito dela”. Eu as entendi claramente, mas não disse uma palavra até pagar minhas compras. Depois, disse em espanhol: “Obrigada, tenha um bom dia”. As duas se olharam em choque, os rostos queimados de vergonha. Após sair da loja, eu não conseguia parar de rir.
Não sei por que tanta gente que conheço sempre se refere aos americanos como “brancos”. Por exemplo, quando fui à minha escola pela primeira vez, os amigos que moravam perto da minha casa pensaram que era uma escola apenas para brancos e me disseram que perderia minhas raízes hispanas ao ir para lá. Minhas duas melhores amigas da outra escola pararam de conversar comigo; quando eu as via, demonstravam frieza e trocavam segredos na minha cara. Antes, eu estava sempre a par dos segredos.
Acho que esse problema é mais comum entre meninas, porque meninas são mais “visadas” que meninos. Meninas são mais críticas. Para os meninos, no futebol ou em outros esportes, não interessa quem está jogando: rico ou pobre, branco ou preto, desde que possam fazer um bom jogo. Mas, se algumas garotas estiverem pulando corda, podem não deixar certa garota brincar, ou por ser pobre e não se vestir bem, ou por ser rica, o que desperta inveja
[Nota da tradutora]: Agradeço à editora americana Arte Público Press por permitir a tradução do relato autobiográfico de Monique Rubio, bem como sua publicação sem fins lucrativos na Revista Philos digital.
Monique Rubio foi aluna do oitavo ano do ensino fundamental de uma escola pública da cidade de Nova York e, em seu relato autobiográfico, fala da experiência de viver nos Estados Unidos com uma identidade latina. O livro em que consta o citado relato — “Hispanic, Female and Young: An Anthology” (1994) — reúne escritos de adolescentes latinas da mesma escola pública e de autoras consagradas, como Pat Mora e Judith Ortiz Cofer.
Ligia Muniz Polignano Côrtes (Belo Horizonte, 1992) possui graduação em Letras (Português/Inglês) pela PUC Minas e pós-graduação em andamento em Revisão de Textos pela mesma universidade. Atualmente, é tradutora e revisora.