Escrevo sobre “ser” que se constitui em rabiscos no papel. Escrevo sobre a Maria Ninguém de Virgulina, de beira de esquina, aquela que você assassina, mesmo antes de ser Giannina. Escrevo sobre o medo de ser. Escrevo sobre a vergonha de ser. Escrevo antes sobre o que não se pode ser, querendo ser algo, querendo ser alguém. Escrevo e apago. E retorno a escrever. Borro. Apago. Erro. Apago. Sai tudo tão disforme, apesar da certeza, de novo e mais uma vez… Escrevo sobre a pedra abrupta que o tempo há de lapidar… mas não com a morte. Por que pensar no fim, se o início ainda está por vir? Escrevo sobre a lírica, que é uma canção adormecida prestes a entrar em erupção. Escrevo sobre a ação no corpo-carne-concreto… Há firmeza, mas, também, maleabilidade. Uso papel e tesoura. Recorto e colo no quadro world interno. Amasso e jogo na caixa de lixo da memória. Algumas horas depois, recupero o rascunho e volto a escrever. Escrevo no vidro, na parede, na escuridão da humanidade… Escrevo sobre a dor alojada no peito, que sangra, que saúda, que sente saudade de casa. Escrevo e reescrevo sobre uma existência que é texto em construção, sem acabamento definitivo, mas real, de osso, carne e cimento.


Giannina Zorrah (Brasil). Rabisco-concreto no papel-realidade, por ora é isso e ponto final.

Publicado por:Philos

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