pequenina epifania
a onda que bate vale
tudo que há sob o sol
é mar e areia sendo
coisa só.
(mesmo o sol e o céu
eu e o papel
somos todos coisa só)
uma trajetória
Eu, que já pretendi
surfar tempestades
cavalgar furacões
beber o Nilo
e mijá-lo Negro
transpirando o Solimões
eu, que me dissolveria
em lago e som
em luz e céu
me fundiria.
Do que é chão e do que é sonho
de mim imiscuído
eu moldaria a argila do mundo.
Eu, que já vivi
tempos de querer que quis
eu, movimento
da noite que fere o dia
hoje sou jovem senhor,
boni pater familias
de minha própria vida.
sem título
Há certos momentos de ser
em que sinto como a beber
(talagada amarga e boa)
toda a força da felicidade
que há de acontecer.
Acreditem, viver
guarda em si
–– e nós em nós ––
o invisível mistério explícito
de gozar com o tempo futuro
e com o inacontecido
os tantos tempos de agoras
que em certos momentos sentimos.
sem título
Há noites que, em poucas horas,
o tempo em que existo
e que me existe
–– matéria mesmo do que sou ––
se dilata, se deslogiciza
e sou pura poesia
por noites, horas, tempos
infindos dentro de mim.
(des)nu(do) reloaded
desnudado do tempo
e do som que o silêncio
teima em tocar
em seu próprio existir
desinvestido
do que consigo
e desconsigo
(dos inalcances
de meus infinitos)
desnovelado
desincumbido
despetalado
desenxabido
totalmente
desnudo de tudo
sigo
Thássio Ferreira (Rio de Janeiro, 1982). É poeta e contista, autor do livro de poemas (DES)NU(DO) (Íbis Libris, 2016) e de contos publicados nas antologias Prêmio VIP de Literatura 2016 (A.R. Publisher, 2016) e “Entre Amigos” (Sinna, 2016). Recentemente, seu livro inédito de contos “Cartografias” foi um dos pré-selecionados ao Prêmio Sesc de Literatura 2017. Tem poemas e contos publicados em revistas diversas como Philos, Germina, Mallarmargens, Revista Semeadura e Avessa.