jerusalém

gerações de pedreiros mestiços
erguendo e reerguendo suas muralhas
véus remendados por batalhões de agulhas
relíquias bronzeadas em azeite e sangue
lar para os seus, tabuleiro para os malditos
pequenos messias controlados em checkpoints,
martirizados, esfaqueados em pontos de ônibus
Al-Quds, apocalipse e gênesis
capital dos delírios do mundo
portal de esperança da humanidade

contralto

porque a voz da contralto embala mais
balança a língua dentro do sino
pendurado nos intestinos
mão que acaricia à contrapena
o peito da galinha
batidas do coração medidas em Hertz
unidade de medida e coração em alemão
da tempestade que traz o trovão também vem o pão
e quando não chove é como uma febre fraca
uma infecção no chão
ela me ensinou, calma: “”Seja gentil com ela””
e uma confiança nesses anjos esquecidos
que às vezes pousam a fronte nos peitos
um desses que acenou pra mim um dia
entre um emaranhado de fones de ouvido
do outro lado do vagão
“”Seja gentil, seja paciente, confie””
ouvi algo de você rouca,
contralto distraída em
alguma distância aérea


Tomaz Amorim Izabel (Poá, São Paulo, 1988). doutorando em Teoria Literária na USP e colunista de cultura na Revista Fórum. Mantenho um blog de poesia já há dez anos e lanço um livro ainda este ano pela editora Urutau. s

Publicado por:Philos

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