Em fevereiro, iniciamos o Pedro e eu uma conversa acerca da poesia, das escritas dos dois lados do Atlântico e das possibilidades de fazermos conjuntamente uma seção de lusofonias. Trocamos muitos correios eletrônicos, muitas vezes longuíssimos, passamos o carnaval falando sobre a ideia do projeto e logo depois o Pedro me escreve que gostaria de que se chamasse “Pomar de brancas flores“. Sem mais delongas, leiam o poema “É o Sol é uma flor generosa“, que inicia a colaboração fixa do escritor em nossa revista. A fotografia que acompanha o material é da fotógrafa Priscilla Haefeli:
é o sol é uma flor generosa
A riqueza que possui
não lhe basta só a si
há que saborear o júbilo
de oferecê-la ao mundo
Antes de ao sono se render
estende os longos braços
e tocando a copa das árvores
de oiro sem mácula as reveste
É sem medida a alegria da dádiva
e tão pueril a vaidade arbórea
tão jovial o deleite do pássaro
que num tamanho encanto
inventa trovas tão breves
quanto o vento soprando do sul
No mistério das coisas silentes
parece o bosque inteiro vibrar
ao tom da evidência pura:
outra cor tem a luz
que por amor é doada
Pedro Belo Clara (Lisboa, Portugal, 1986). Ocasional prelector de sessões literárias, colaborador e colunista de diversas publicações portuguesas e brasileiras, autor de três blogues e de seis livros, entre poesia e prosa.