Musa silenciosa
A palavra quer me expandir
Saltando em fuga desenfreada.
Tento domá-la no papel,
Desliza-me pelas palmas,
Muda o passo,
Muda vontade.
A palavra não é minha,
E me escapa em rajadas,
Cria de sinopses
Não provocadas.
Fruto de conexões
Que me dão concretude.
E automática, tirânica:
Quando avança e ataca,
Rendo-me fácil.
Não sou dono. Sou escravo.
A palavra é ritmo que desconheço,
Invisível.
Coerente a lógica estranha.
Não entendo de música,
E escrevo sinfonias.
Quando ela é, não sou.
Quando não sou, já nasceu,
Já morreu
Milhões de vezes.
Efêmera, brilhante e compulsiva.
Em seu compasso a vida é leve.
Aceito, calado, seu descaso.
Não me leva em conta,
Seu anseio egoísta
É tornar-se verbo
Criador de universos,
Sua magia me transpassa.
Ela cumpre sua função. Ponto.
Quando me arvoro no direito
De me crer poeta,
Torna-se riso,
Frases irônicas,
Altas gargalhadas.
Suspende a pena sobre o papel,
E eu, antes arrogante,
Agora suplico, demente,
Inclino-me e agradeço,
Rogando novamente
O dom de sua graça.
Caio Lobo (Recife, 1979). Colunista da Philos, é formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco e Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Leitor compulsivo e romancista. Lançou recentemente o seu livro Trôpegos Visionários pela editora Kazuá.
Um comentário sobre ldquo;Neolatina: Mostra de poesia lusófona, por Caio Lobo”