novo mandamento

Hoje queimamos bruxas
Com desculpas esdrúxulas
Nas mesmas praças públicas
Construídas com suor e sangue
De suas mãos esfoladas.
À imagem e semelhança de deus
Todos os filisteus
Metralharam mães desoladas
E queimaram suas ossadas
Como se não conhecessem seus ventres.
Mulheres com mãos de artistas
Expostas em vitrines e revistas
Com o olhar triste e inglório
De quem foi rebaixada
A mero acessório.
O mundo é um barco à deriva
Em que a alma contemplativa
É o bote salva-vidas
Que não foi feito para ser usado.
Portanto, Mulher
Faz do teu corpo arte
Como se fosse parte
De algo que não tem nome
Mas engana o homem
Com seu suposto silêncio.
Um dia, a fogueira quente
Que te queima
Em combustão explode
E a rosa delicada
Vira comigo-ninguém-pode.
Então, quando deus
Descobrir o poder da Mulher
Fará um novo mandamento:
“Salve-se quem puder”.


Victoria Tule (Curitiba, Paraná, 1995). Escritora e roteirista – ou, ao menos, tento ser. Em 2017, publiquei meu primeiro livro “Poemas são como um soco”.

Publicado por:Philos

A revista das latinidades