RIO NEGRO À MANEIRA DE SOPHIA ANDRESEN II
Aqui, calmo e largo como um desejo
Com sua lisa pele de espelho,
Não sabe, não pressente, e nem mesmo
Imagina, com seu caudal, o negro,
Toda algaravia, todo caos
Que em seu antiquíssimo colo preto
Vai atirar esta infanta: Manaus.
LEGENDAS FOTOGRÁFICAS DE UMA TARDE EM MANAÓS
manaus é (como a) amazônia:
(um) mundo de muitos mundos.
(como) o mundo.
de bobs
em manaós
um miró
(: catalunha)
escondido numa galeria
em um dos palácios vazios
da cidade.
peixaria
de goeldi,
bandeiras
de volpi
e um cícero dias
cujo nome
o mormaço comeu.
um móbile
contra o poente
emoldurado pelas portas
da percepção:.
óculos escuros
tangled together
feito flores
like butterflies.
“sonolência”
diz a artista.
mosaicos
texturas
ruínas
maquetes
postais.
no museu
da imagem
e do som
o amor é uma câmera fotográfica
modelo Love – Manaus 1980.
no paço da liberdade
eu e thiago mello
fazemos jus:
ele em poemas
entrecortados
eu –– ao terraço ––
em volutas de fumaça
libertando meu olhar
para entrecortar
a chuva sobre o rio.
a tarde é chuva
que molha e passa…
NOITE NO NEGRO II
sobre o negro
a noite é outro rio
sem que do seu
ventre escuro
aflore o dourado
da superfície.
não. dentro da noite
só a própria noite
o próprio rio
e o negro, anoitecido
é puro fundo de espelho
calmo, familiar
insondável abismo.