É preciso ouvir mulheres e seus buracos,
Temos buracos tão fundos
Quanto os que anseiam ou violam.
Nossas lacunas criaram pontes longas
De uma para a outra,
Esse vãos por inúmeras vezes
É o que nos fazem seguir, juntas.
É preciso falar sobre mulheres e seus buracos.
Eis aqui um buraco gramático e sintomático,
Desde os ossos porosos aos tecidos uterinos,
Desde os poços sem fundo olhos aos
Furos peitos que não estancam,
Desde as que vieram antes até as que nascerão.
É precioso acessar mulheres e seus buracos.
Estreia aqui um buraco no meio da avenida,
Que quebra molas cabeças dos desavisados,
Que causa desvio, quiçá cautela aos precavidos,
Há placas que sinalizam buracos ávidos, vivos…
Buracos.
É preciso reconhecer mulheres e seus buracos.
Nos becos escuros e fétidos, nas filas de desempregadas,
Nas lutas pela equiparidade.
É preciso ler mulheres e seus buracos.
Pra isso, leia este.
Assista ao vídeo da participação da artista durante a Festa Literária das Periferias – FLUPP 2015:
Luz Ribeiro (São Paulo, Brasil). Poeta e atriz.