presa a um útero sagrado
presa a um útero sagrado,
tingida de rosa
escolhida a forma
traçados os caminhos
imposta a rebolados.
dona mocinha tem buraco no peito,
é falta! Pai, filho, nem espírito santo que
lhe dará pudor
não cicatriza.
buraco aberto não é ferida de mundo
é ferida nele.
alma navegante trazendo um hímen
descoberto
em um mar de lágrimas culposas,
engoliu e a-dor-me-ceu.
sonhou rodopiar
em sair de saia longa ou justa
por que era si
e não olhares
acordou com mal estar, estava ali.
com a quebra de um contrato firmado
entre a lei de existir, a lei de ter sua vagina
invadida, a lei de ficar calada.
mas ficou por aí, essas coisas cheias de
outros
postas todas em seus ombros,
mesmo cansada e pesada voou, movida
por ser
pousa só em palavras cicatriz
de outras donas mocinha que como ela
nem vê, nem pertence,
nem fecha o buraco ferido
ao longo dos giros e ritmos de gemidos no
seu silêncio,
não esconde o sangue derramado de si pra
mostrar que é energia
própria renovada.
refaz-se a cada luto
cria-se a cada luta.
dona mocinha tem ferida desse mundo,
colheu o corpo regado com lágrimas,
dança em vênus
hoje é festival de mãos dadas!
ainda sonha
em abraçar as noites e que todas
mocinhas
sejam donas de seus (respectivos)
buracos.
Assista ao vídeo de “Presa a um útero sagrado”, de Pam Araújo:
Pam Araújo (São Paulo, Brasil). Nacida há pouco, é companheira, é mãe, é Slam das Minas SP, semente plantada na luta, transforma os espinhos de ser paulistana e mulher em poesia. Tem escritos por aí, não se formou, já tentou três vezes, se informa sempre, uma hora acha. Acima de tudo é feminista.