loucura

dia desses o mundo pareceu nascer do meu ventre e arrebentar,
umbilical, enquanto rolava pra longe de mim  deixando apenas
seu rastro vermelho pelo caminho
e no vácuo do universo
solitário, negro como eu só
eu vi meu reflexo em cacos de vidro
que flutuavam dançantes ao  meu redor
eu senti o estralo de todos os copos de cerveja que se quebraram
na 25 de agosto aquela noite
e o cansaço de todos os trabalhadores que passaram pela Central
do Brasil

como se num pêndulo,

minha sanidade oscilava entre a loucura do mendigo que gritava
com a luz piscante da estação do VLT e a leveza convicta das
mãos que furtaram as velhas senhoras que passavam eu senti a vida
tão ligeiramente que quase palpável
confusa e talhante como os espelhos que refletiam o meu rosto


Mayara Mariano estudante de jornalismo na UERJ. Mulher preta e da Baixada Fluminense. A escrita é onde eu enxergo o mundo. Esse texto é uma reflexão sobre a loucura e sua relação íntima com a sanidade.

Omar Rosario (São José do Rio Preto, São Paulo, 1985). Artista visual, ilustrador e artista multimídia. Graduado pela Universidade Belas Artes de São Paulo em 2007, começou sua carreira artística como designer de moda onde se apaixonou por ilustração e pintura. Artista autodidata, dedicou-se integralmente às artes visuais em 2016 e desde então vem realizando trabalhos com pintura – onde experimenta suportes e técnicas – e  também trabalhos com fotografia e vídeo. O artista já participou de salões de artes visuais, mostras de arte e pequenas exposições. Em 2019 fundou a Editora Invisível, uma editora independente de livros ilustrados que aborda assuntos da contemporaneidade. Em sua produção são frequentes as referências políticas e sociais da atualidade.


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Publicado por:Philos

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