ilha nua
A âncora me fisga
subo as encostas da ilha
o pai me ampara
Pesam em mim a história e o mar,
águas da vida em jorro perpétuo
O céu desce na curvatura dos corpos
que vão ao cimo sem cordas
A noite dá forças ao oceano
que nos molha
do único tronco a semente brota
Os filhos tantos verão a árvore,
a flor e provarão o fruto
Sobre a mesa de tábuas, a menina
se alimenta, na inocência de que tudo
está pronto desde sempre
O homem e a mulher em travessias
mar e terra
ilha nua que se veste de promessas
em cada pedra do chão
em cada gesto do cuidar
île nue
L’ancre m’agrippe
je gravis les coteaux de l’île
mon père me soutient
En moi pèsent l’histoire et la mer,
eaux de la vie qui jaillissent perpétuellement
Le ciel descend par la courbure des corps
qui vont vers la cime sans corde
La nuit donne des forces à l’océan
qui nous trempe
de l’unique tronc germe la graine
Les fils nombreux verront l’arbre,
la fleur et goûteront le fruit
Sur la table en planches, la fillette
mange dans l’innocence de tout ce
qui est prêt depuis toujours
L’homme et la femme traversent
mer et terre
île nue qui se revêt de promesses
à chaque pierre sur le sol
à chaque geste attentionné
Regina Alonso (São Paulo, Brasil). É uma premiada escritora e poeta, destacando-se desde suas primeiras manifestações. Seu trabalho conheceu o mundo, colecionando críticas positivas. Entre as diversas obras publicadas de poesia, contos, crônicas e romance, revela uma sensibilidade tão prática quanto metafísica, mesclando poesia, pensamento e espírito.
Stéphane Chao (La Rochelle, França, 1974). Foi diretor do Escritório do Livro na Embaixada da França no Brasil entre 1999 e 2003. Desde então, trabalhou como agente literário internacional, promovendo particularmente escritores brasileiros. Em 2007, idealizou o prêmio Cunhambebe de literatura estrangeira no Brasil. Vive atualmente no Rio de Janeiro.