soslaio
Quando te olhar, vou ser assim, arisco.
É que não posso ser de outra maneira,
vender todo meu choro, carpideira
de lágrimas falsas enquanto pisco,
ao que, nos abismos teus, não arrisco.
Não encaro o penhasco em cuja beira
chego perto, e, na boca da pedreira,
eu decido parar, porque o chuvisco
já se adensa mais e mais, tempestade,
fúria violenta, tufão, tormenta.
Vem e assola o que há de íntimo, e tinge
de cores duvidosas, e afugenta
os meus olhos que te encaram, esfinge
que se disfarça de cara-metade.
éter
Tem gente que se prende pelo tato
porque é sensível ao toque da mão,
mas tem gente que prefere a audição,
sussurros e viola, mas o fato
é que alguns se prendem mesmo pelo olfato,
são sensíveis ao cheiro do carvão,
mas outros não têm essas coisas não,
curtem de tudo, eles são um retrato
de uma geração que vê o cheiro
e sente o gosto do perfume doce
enquanto ouve um ruído quadrado
fundindo as coisas como tudo fosse
éter sinestésico maquinado,
fragmentos de sentidos, mas inteiro
quê!?
algo que me arrebate
sem que me arrebente
da morte
Se a morte chegar
pelo correio, junto com as contas
e os postais
compro selos
mando a alma envelopada
e não registro
à certeza do destino,
prefiro
o acaso do extravio