Na mostra de poesia neolatina, apresentamos três poemas de Louise Ramas, escritora paulista que lançará pela Casa Philos o seu livro Só dou flores aos vivos que não têm pressa. Os textos são acompanhados de fotografias de Bruna Monique. Sem mais delongas, leia os poemas da artista:
Se eu entrar em completo silêncio
abstinência total de palavras
você vai aprender o valor
de ouvir a voz
de uma mente que nunca se cala?
Levei um tempo para perceber
Que o meu silêncio favorito
Não era você
Que o meu silêncio
Passa despercebido
Não sabe a hora de ir embora da mesa do bar
Nem dormir uma noite inteira
O meu silêncio é o que não se faz
Você me estragou.
Foi de propósito
Por excesso ou
por falta
de amor?
Mesmo na primavera
Não brota
Em terra
Envenenada
Você podou muito além
Daquele galho depravado
Arrancou
Sem querer
Algumas petúnias rosas
Estragada
Maçã podre
Tem que ser tirada da caixa
Para não putrificar os que estão em volta
Raiva queima
No peito
Na garganta
Flui pelo corpo
Acerta
Onde a chama
Prometeu trouxe a terra
A luz divina
Mas quem brinca
Com fogo
Arde
Raiva queima
O peito
A garganta
Nunca dorme
Usando mordaça
Se disfarça
De menina comportada