A série Xochitlajtoli é uma mostra de poesia em línguas originárias do México, com curadoria de Martín Tonalmeyotl. Em nossa estreia, apresentamos a poeta María Concepción Bautista, escritora, artista plástica e ilustradora maya-tsotsil. Licenciada em pedagogía, formou-se em psicologia Gestalt [da forma], educação intercultural, criação literária e o desenvolveu o Seminário de Análise e Composição Literária. Autora dos livros Xch’ulel osil balamil [Espírito da natureza, 2017] e Sk’ejimol ch’ulelaltik [O canto das almas, 2019]. Participou de diversos recitais e festivais de poesia, entre eles, da FIL Guadalajara, em 2019. Realizou exposições pictóricas em diversos lugares do estado de Chiapas e do México. Ministrou oficinas de iniciação à criação literária e de pintura infantil voltadas para a infância em contextos de marginalização. Sua obra poética foi incluída em diversas antologias como no livro O melhor poema do mundo, das edições Nobel, na Espanha e Alborismos, publicado na Venezuela, em 2020. Aqui você lê poemas inéditos da artista curados por Martín Tonalmeyotl e traduções aos português de Sabrina Graciano:

balun ok’es

Ta jk’an jna’ k’usi chal ak’ejoj
k’alal chak’opon lok’ebal k’ak’ale,
k’alal chalo’ilaj ta stoylejal k’ak’al,
k’alal chak’opoj ta mal k’ak’ale.
Chavak’ komel ak’op ta sat k’ak’al,
ta sti’ malob k’ak’al. 

pájaro sinsonte

Quiero descifrar tu canto
cuando hablas al oriente,
cuando conversas en el cenit del sol,
cuando dices al declinar el día.
En los ojos del sol dejas tu palabra,
a las puertas del ocaso.

pássaro cotovia do norte

Quero decifrar seu canto
quando fala para o Oriente,
quando você conversa no zénite do sol,
quando você diz ao declinar o dia.
Nos olhos do sol você deixa sua palavra,
às portas do ocaso.

sbon sat ta i’ li nabe

Snats’inoj puytik
stsebetik balamil,
xchi’uk yik’ sikiket te’tik,
snukulel yanalte’ xchi’uk p’alaxil tulan,
ch-atinik  xchi’uk xojobal u,
sjalik lo’ilk’op ta batel osil k’ak’al
sjalik kuxlejal,
k’uchal sjalik snaul bats’ik’ui’l
Ants, Me’il, Balamil. 

el mar pinta su rostro en la arena

y tiene collar de conchas,
mientras que las hijas de la tierra,
con aroma de fresco bosque,
piel de hojarasca y corteza de roble
se bañan con fulgor de luna,
tejen historias en el tiempo
tejen vida,
como tejen el hilo de un huipil
Mujer, Madre, Tierra.

o  mar pinta seu rosto na areia

e tem colar de conchas,
enquanto as filhas da terra,
com aroma de fresco bosque,
pele de folhada e casca de carvalho
se banham com brilho de lua,
tecem histórias no tempo
tecem vida,
como tecem o fio de um huipil
Mulher, Mãe, Terra.

tseb

Sikil ikliman
sk’eloj chanab unentseb
skuchoj ta sk’om yunenal
Jkuch si’ unentseb
jkuch o’
chiuk smol k’im,
sk’opon ikliman. 

niña

Fría neblina
vigila el caminar de la niña
en sus brazos carga su infancia.
Niña cargadora de leña
cargadora de agua
con su viejo cántaro
saluda a la mañana.

menina

Fria neblina
vigia o andar da menina
nos seus braços carrega a sua infância.
Menina carregadora de lenha
carregadora de água
com seu velho cântaro
saúda a manhã.

o’

Jk’an chk’uch’ a ts’ujulal k’uchal mut
jk’an chkuch’ot
ta sboch membelil U.
Chkuch’ xojobal a k’ob,
yu’un skuxan jch’ulel.
Xik’ o’, j-ak’ kuxlejal. 

agua

Quiero beber tu rocío como ave
quiero beberte
en la jícara de la abuela Luna.
Beber el efluvio de tus manos,
que alimentan mi espíritu.
Alas de agua, germen de vida.

água

Quero beber o seu orvalho como ave
quero te beber
na xícara da avó Luna.
Beber o eflúvio de suas maõs,
que alimentam meu espírito.
Asas de água, germe de vida.

tobtob

Chanab ta t’uxul  yanal te’tik
Ts’ibajbatel ta p’alaxil ch’ut te’etik
ta a’maltik.
Jk’an ta xka’i sk’ope.
Tsebal tobtob.
Me’el tobtob.
Bu cha k’ej ti a a’bilale.
Bu cha k’ej jlo’iltik.
J’ka’n ta jna’ k’usi ora stak’ k’elel ti  k’ak’ale.
Jk’an ta jk’el k’usi  chatsibabe ti nabe
Jk’an chka’i   a k’op.
Jk’an ta jna’me chak’ejin ta balamil,
Me chak’ejin ta nab.
Tobtob, tobtob
¿Buch’u cha k’ejintabe k’alal cha k’ejine? 

caracola

Camina en la húmeda hojarasca,
va escribiendo en la corteza del árbol
en el bosque.
Quiero escuchar su palabra

Caracola joven.
Caracola anciana.
Dónde guardas tus años.
Dónde guardas nuestra historia.

Quiero saber cuándo mirar al sol.
Quiero leer lo que escribes al mar.
Quiero escuchar tu palabra.
Quiero saber si cantas en la tierra,
si cantas en el mar.
Caracola, caracola.
¿A quién le cantas cuando cantas?

concha

Caminha na úmida folhada,
vai escrevendo na casca da árvore
no bosque.
quero ouvir a sua palavra
Concha jovem.
Concha idosa.
Onde você guarda os seus anos.
Onde você guarda nossa história.
Quero saber quando olhar para o sol.
Quero ler o que você escreve ao mar.
Quero ouvir a sua palavra.
Quero saber se você canta na terra,
se você canta no mar.
Concha, Concha.
A quem lhe canta quando você canta?

jbonolajelte’

X-akotaj  ta sbonk’utik,
yik’ lum ta sbon,
sbon   xchi’uk snatil sjol
slo’il jme’tik u;
osil k’ak’altik yich’oj  li sk’ope.
Sbon jujup’el sk’op unen bats’i ants.

pincel

Danza en los colores,
pinta olor a tierra
su cabellera traza
la historia de la abuela luna;
su palabra rostro del tiempo.
Pinta versos de la joven tsotsil.

pincel

Dança nas cores,
pinta o cheiro da terra
seus cabelos traçam
a história da avó lua;
sua palavra rosto do tempo.
Pinta versos da jovem tsotsil.


Xochitlájtoli tem curadoria de Martín [Jacinto Meza] Tonalmeyotl, narrador, professor, tradutor e fotógrafo do povo nahua. Licenciado em Literatura Hispanoamericana pela Universidade Autônoma de Guerrero UAGRO e Mestre em Linguística Indoamericana pelo Centro de Investigações e Estudos Superiores em Antropologia Social CIESAS. É professor de língua náhuatl na Universidad Intercultural del Estado de Puebla UIEP. Foi becário do Programa de Estímulos à Criação e Desenvolvimento Artístico de Guerrero PECDAG e do Fundo Nacional para a Cultura e as Artes – FONCA, do México. Autor de los livros Tlalkatsajtsilistle [Ritual de los olvidados, 2016], Nosentlalilxochitlajtol Antología personal [2017] y Istitsin Ueyeatsintle [Uña Mar, 2019]. Alguns de seus poemas, relatos, artigos e fotografias foram publicados em diversos veículos de comunicação impressos e digitais no México e fora dele. Sua obra também aparece em diversas antologias em línguas originárias. É coordenador das séries Brasiliana e Xochitlájtoli, para as revistas Círculo de Poesía y Philos, com o objetivo de aproximar os leitores das diversas línguas indígenas que insistem em sobreviver nas Américas.

Publicado por:Philos

A revista das latinidades