O texto se abre antes da cortina. O ator gagueja dentro de si, mas bravio em excelência toma a punho o gesto do não dito, do não representável. O ator não vacila. A luz aquece a pele que sua frio – o tremor não é medo, é gozo para além da carne. O porão de cada um parece querer revelar-se diante do abismo da lágrima contida. Já o sótão espera sua cena como uma criança espera o abraço dos seus amores. Olhares namoram entre si e lançam ao outro o desafio de projetar-se. Com fagulhas entre duas espadas o saber ignora o proscênio e avança no ponto cego do breu. Nada dorme nesse palco. Agulhados pela sensação do hoje eternum não pretendem acordar diante da plateia. Chega a hora apenas de tornar público o último suspiro antes da realidade voltar a ditar regras torpes sem jogo. O absoluto se veste de cor, forma, palavra e corpo. Não há mais como voltar para casa sem as palmas que teimam em gritar nos ouvidos em nostalgia do presente. Projetos sociais disseram por aí que era para fazer arte para melhorar; efeito colateral: deu tudo errado; ficaram todos “piores” e, ora desejam mudar o mundo através de uma desobediência criativa. Pobres são os atores condenados a viver o relativo de um espelho que refrata a enfermidade a lhes silenciar. Mas, o teto sempre desaba anunciando um novo tempo. Agora é a vez desse sótão brilhar; o céu é o verso do infinito em cada um de vós.


Paulo Emílio Azevêdo (Rio de Janeiro, 1975). Professor, Doutor pela PUC-Rio em Ciências Sociais, escritor, poeta e coreógrafo. Recebeu diversos prêmios, entre eles “Rumos Educação, Cultura e Arte” (2008/10) pelo Instituto Itaú Cultural e “Nada sobre nós sem nós” (2011-12) no âmbito da Escola Brasil/Ministério da Cultura para publicação do livro Notas sobre outros corpos possíveis (2014). Seu mais recente livro, O amor não nasce em muros (2016), tem prefácio assinado pelo editor chefe da Philos.

Publicado por:Philos

A revista das latinidades

Um comentário sobre ldquo;Ode ao autor, por Paulo Emílio Azevêdo

O que você achou dessa leitura?