Teus olhos na tua boca me fazem ouvir passos descalços que se distanciam do teu ouvido e batem no meu peito. Desfaço-me de desgosto; mesmo assim continua gostoso o gosto azedo do teu suor que me leva a uma atmosfera única do mundo astral dos sonhos encantados. Tuas costas cheias de cordões umbilicais que te conectam a esse sonho acordado que vivo a teu lado. E não me esqueço do momento que te conheci, mas não consigo lembrar-me de quando deixei de te conhecer. Droga! Essa nuvem negra, cada vez mais negra, me faz lembrar teu hálito que transpirava do teu corpo inteiro e me exalava de carinhos, ternura; quantas amarguras vividas ao teu lado. Mas que lado? Essa nuvem negra me fez esquecer como são lindos teus olhos na tua boca. Ah, que boca! Que olhos! Que corpo! E aqueles gozos gozosos que muitas vezes fui levado de mim para ti em movimentos cada vez mais únicos e gostosos. Tuas mãos eram meus pés e tua cabeça minha cabeça; na verdade, o que era meu era também teu, teus pés, teus joelhos, tua barriga, ah, que barriga!… Hoje, andando, vejo ruas escuras, noturnas, por onde passamos e flutuamos, nos afundamos num oceano cada vez mais raso nesse rastro de rato doentio que povoa esgotos de belos romances com nuances pútridas de ciúmes; que tua bela boca fala o que meus olhos não conseguem ouvir e meus ouvidos não conseguem ver, e continuas a falar… Eu grito. – Cale-se! Pelo amor da razão que perdeste muito tempo atrás!
Willames Frank (Alagoas, 1986). Graduado em Filosofia (UFAL), especialista em Filosofia da Educação (FACESTA), estudante de Letras na Universidade Federal de Alagoas. Pesquisa em Filosofia Latino americana e faz parte do Grupo de Pesquisa: Subjetividade e Crítica ao Sujeito Moderno (UFAL – CNPq).
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