A convite da SP—Arte, produzimos a nossa listagem dos melhores artistas e obras da feira. Participaram conosco curadores, críticos, artistas, galeristas e o público. Todos imprimiram suas observações e olhares nesta lista.

Diante dos processos de cada artista e da multiplicidade de suas técnicas, devemos destacar as fragmentações de algumas mostras —uma incompletude já esperada em formatos de grandes feiras de arte e exposições coletivas. Razão pela qual retiramos de nosso critério avaliativo a categoria expografia. Os critérios avaliados pela nossa curadoria incluem, como sempre: inovação, criatividade, suporte, contexto e gosto pessoal. A saber:

  • Inovação: a obra em si apresenta algum caráter inovador? Isso já foi visto antes? Se sim, em que sentido isso se aplica?
  • Técnica: muitas técnicas milenares como a pintura a óleo e escultura em cerâmica, apresentam em si formas de criação e procedimentos que vêm sendo passados ao longo dos tempos. Assim torna-se importante notar se essa execução cumpre o caminhar dessas técnicas ao longo da história.
  • Suporte: muitas vezes a criação de uma obra contemporânea perpassa por como ela vem sendo trabalhada através do seu suporte. Tornando essa categoria importantíssima para o desempate entre as obras.
  • Contexto: na produção contemporânea é inevitável que levemos em consideração quem é o responsável pela produção de uma obra de arte: de onde vem? Qual a realidade sociocultural deste artista? Como chegou até ali? Muitas vezes percebemos que as obras estão conectadas de forma intensa com a história e vida de quem as produziu.
  • Gosto pessoal: mesmo sendo um critério subjetivo, a categoria “gosto pessoal” está pautada na empatia de quem critica uma obra em relação à sua própria vida. As obras que nos atingem e instigam estão diretamente relacionadas com as situações, aprendizados e vivências que moldam a nossa sensibilidade e olhar.
Vistas da SP-Arte 2024 no Pavilhão da Bienal, em São Paulo.

A presença de artistas periféricos, indígenas, pretos, mulheres, LGBTQIAPN+ e outras maiorias minorizadas revelam a importância de visibilizarmos narrativas dissidentes e que geram novas demandas mercadológicas para a arte. O debate em torno das questões de gênero, corpo e identidade tomam novas proporções a partir do momento em que olhamos para essas temáticas com olhos distantes daqueles excludentes de nossa sociedade.

Toyohara Kunichika—1835, Edo, Musashi, Japão [Japan] em destaque da Gomide&Co.

Os temas apresentados pelas galerias e artistas presentes na edição comemorativa de 20 anos da SP–Arte foram vastos e incluíram territórios, períodos, mídias, objetos e diferentes linguagens-suportes. Mas sem evitar por completo artistas e obras já datadas ou apresentadas em outras edições e feiras de arte.

Vistas da exposição da Millan com destaque para obra de Maxwell Alexandre na SP-Arte 2024.

Os mais de 190 expositores que ocuparam o Pavilhão da Bienal, dimensiona o trabalho da curadoria da feira e seu empenho em promover a expansão do mercado de arte no Brasil ao longo desses 20 anos. Tem sido uma jornada pioneira e incansável a de Fernanda Feitosa na condução da SP–Arte ao longo do tempo. Desejamos prósperos e auspiciosos futuros para a Arte Brasileira e para a SP–Arte na comemoração desse marco tão importante.

Para nós, uma obra de arte deve transpassar o seu próprio caráter objetual, criando experiências que lhe ressaltam além da matéria com a qual é realizada, os processos e as ideias que a estruturam. Caráter este que vai além do pensamento por trás de cada obra ou mesmo das próprias filosofias de seus artistas. Dando-lhes nova configuração e estabelecendo paralelos com outros criadores da contemporaneidade: como se observam, como atuam no meio em que produzem e vivem; e os movimentos cotidianos que delimitam e expandem seus trabalhos em diferentes linguagens através dos tempos.

Eis aqui as 20 melhores obras, artistas e galerias da 20° edição da SP-Arte:

  1. Millan 4.9 ★ ★ ★ ★ ☆
    Gustavo Caboco com “Makunaima conversa com o espírito do caxiri nos pés de batata doce” é o destaque desta edição. A pintura é mais uma das reverberações da literatura do invisível do artista, que ressoa a urgência de ouvir o mundo ao nosso redor. Outros destaques da Millan ficam por conta dos impecáveis Miguel Rio Branco, Maxwell Alexandre e Vivian Caccuri.


  2. Gomide&Co 4.8 ★ ★ ★ ★ ☆
    A arte política de Rirkrit Tiravanija com sua série “Untitled” em torno do assassinato da vereadora Marielle Franco. E as esplêndidas xilogravuras orientais ukiyo-e de matrizes e pigmentos raros apresentados pela Gomide&Co da coleção do artista Massao Okinaka falam por si só!
  3. Mitre 4.7 ★ ★ ★ ★ ☆
    Wallace Pato é sem dúvidas um dos artistas mais importantes de sua geração, sua obra é sempre uma espécie de revelação da vida comum das pessoas, do trabalho e das gentes nos traços opacos de seus rostos negros em constante suavidade de seus gestos.

    Mitre, com destaque para obra de Wallace Pato.
  4. Fortes D’Aloia & Gabriel 4.6 ★ ★ ★ ★ ☆
    Cada nova pintura de Márcia Falcão é um convite ao deslumbramento e não poderia ser diferente com a sua obra “Helicóptero”, da série “Capoeira em paleta alta”. Outro nome forte do stand é Luiz Zerbini, sempre multicolorido e cheio de vida!


  5. MT Projetos de Arte 4.4 ★ ★ ★ ★ ☆
    Uma trajetória longínqua é um dos recados que a SP-Arte na comemoração de seus 20 anos quer nos dizer. E Gervane de Paula, com uma carreira que atravessou décadas, chega nos dias de hoje com um discurso relevante, desafiador, satírico e atraente.


  6. Lima Galeria 4.3 ★ ★ ★ ★ ☆
    O Maranhão recontado pelos olhares apoteóticos da Lima Galeria com Zimar, Márcio Vasconcelos, Carchíris, Silvana Mendes, Tassila Custodes, Thiago Martins de Melo, Marcone Moreira, Gê Viana e o maravilhoso Joelington Rios.


  7. Carmo Johnson Projects 4.2 ★ ★ ★ ★ ☆
    Destaques para as obras do Mahku – Movimento dos Artistas Huni Kui, Kássia Borges, Kaya Agari e Naine Terena. Um verdadeiro encontro de espíritos, linguagens, cosmologias, estéticas e ativismos entre artistas indígenas contemporâneos.


  8. HOA 4.1 ★ ★ ★ ★ ☆
    Destaque para a curadoria assinada por Micaela Cyrino para falar de ancestralidades e espiritualidades e as pinceladas repletas de sonhos fantásticos de Mika Takahashi; a sempre incrível Mariana Rocha e a estreia de Samuel de Saboia na feira com obras que são sempre um convite ao silêncio e a reflexão.
  9. Galatea 4.0 ★ ★ ★ ★ ☆
    Algumas galerias reúnem nomes de peso, mas a Galatea levou isso para outro nível: a mostra é diversa e destacamos Allan Weber, Lygia Clark, Maria Leontina, Lygia Pape, Bruno Novelli e Maria Martins. Nós amamos quando as narrativas adentram os imaginários para criar uma mistura perfeita de arte.


  10. Nara Roesler 3.9 ★ ★ ★ ☆ ☆
    É um verdadeiro deleite aos olhos tudo o que Elian Almeida se propõe a fazer. Suas pinturas vão além das denúncias e recriações de novas narrativas decolonias, perpassam também pela magnitude de alguém em pleno exercício do trabalho da pintura. Fantástico!


  11. Janaina Torres 3.8 ★ ★ ★ ☆ ☆
    Os destaques vão para Andrey Guaianá Zignnatto, Antônio Oloxedê e o incrível Guilherme Santos da Silva que consegue a cada nova exposição revelar a magnitude de suas cores únicas. E claro, a sempre divertida Paula Juchem!


  12. Karla Osório 3.7 ★ ★ ★ ☆ ☆
    O conjunto da obra reunido de Selva de Carvalho, Matheus Marques Abu, Moisés Patrício e Thiago Costa é um espetáculo!


  13. Projeto Vênus + Marli Matsumoto 3.6 ★ ★ ★ ☆ ☆
    Adoramos suportes diferentes como a tela de tururi com pigmentos naturais da jovem artista Kuenan Tikuna do povo Tikuna do Alto Solimões. A diversidade de expressões artísticas e identitárias tem fomentado cada vez mais narrativas decolonias a partir da arte.


  14. Anita Schwartz 3.5 ★ ★ ★ ☆ ☆
    É sempre bom perceber a sutileza e requinte da pintura de Bruno Lyfe em seu Jardim Pernambuco, e as tramas de histórias de Jeane Terra sobre as memórias e correntezas do Mekong.
  15. Amparo 60 3.4 ★ ★ ★ ☆ ☆
    Importantíssima a mostra Pôr Defesa, com curadoria de Ariana Nuala e destaques para Chico da Silva, Diogum, Clara Moreira, Rodrigo Braga, Jeff Alan e mais uma vez o sempre incrível Fefa Lins!


  16. Galeria Lume 3.3 ★ ★ ★ ☆ ☆
    Com as obras de Hal Wildson e sua série “Anistia da Memória, Ato Institucional”, com impressões em borrachas escolares para falar das tentativas de apagamento da história, da democracia e os golpes políticos no Brasil. Destaque também para “O levante das águas”, também do artista.


  17. Asfalto 3.2 ★ ★ ★ ☆ ☆
    Ian Nes estreia na SP-Arte com seu primeiro solo e um conjunto impecável de pinturas apresentadas pela Asfalto. As telas cheias de elementos e cores nos fazem transportar para a visão única do artista.
  18. A Gentil Carioca 3.0 ★ ★ ★ ☆ ☆
    Extremamente embasada obra de Marcela Cantuária é sempre um convite ao deleite artístico e sociopolítico da América Latina. Outros destaques também para a sempre genial Vivian Caccuri e o grande Arjan Martins.


  19. Albuquerque contemporânea 2.9 ★ ★ ☆ ☆ ☆
    Baseado em um conto de João Antônio (1937-1996), “Malaguetas, Perus e Bacanaço”, o artista Froiid cria uma sala de pinturas, objetos e sons, que nos fazem mergulhar pela narrativa do autor paulistano, utilizando elementos como jogadas de bilhar, o ritmo do samba a malandragem.


  20. VERVE 2.9 ★ ★ ☆ ☆ ☆
    Um conjunto bonito de se ver: Nádia Taquary, Marcos Paulo Rolla com a escultura “O nascimento do Amor” e o importantíssimo trabalho de um dos maiores nomes pernambucanos das artes, Fefa Lins.
Obras de J. Cunha na SP-Arte 2024

Vale ressaltar também alguns artistas individuais e trabalhos como a linda mostra dedicada ao J. Cunha, pela Galeria Paulo Darzé; a obra Coração [1996-2024] de Adriana Varejão, apresentada pela Galería Sur; os belíssimos trabalhos de Brendo Reis na Inox e Yhuri Cruz na Galleria Continua São Paulo.

E o Top5 Artistas da SP-Arte 2024, são:

  1. Gustavo Caboco ★ ★ ★ ★ ★
  2. Vivian Caccuri ★ ★ ★ ★ ★
  3. Márcia Falcão ★ ★ ★ ★ ★
  4. Wallace Pato ★ ★ ★ ★ ★
  5. Fefa Lins ★ ★ ★ ★ ★

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Publicado por:Philos

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