Estamos em São Paulo e acompanhamos, a convite da SP—Arte, o preview da SP—Arte: Rotas Brasileiras 2023. Esta edição especial para falar da nossa arte nacional é também um convite para perceber as nossas intrínsecas mazelas e alegrias, que se debruçam sobre o encontro das diferentes histórias, expografias e curadorias contadas por cada projeto apresentado na feira.
Saltaram aos olhos os esforços de algumas galerias em romper com os cânones de modo a projetar uma pequena fagulha de novidades para os modelos das feiras de arte. Com um ponto alto: os deslocamentos epistemológicos da arte e do saber causados pelos artistas e obras que contam diferentes pesquisas e narrativas de vida, historicidades, vivências e memórias. Que se somam de forma heterogênea para revelar os tantos brasis que temos para conhecer e desbravar a partir do olhar único de quem faz arte em nosso país.
Eis aqui os nossos 10 destaques da programação:
- HOA
Misturar chiffon de seda pura e concreto com olhos salientes, questionadores e observadores é o que faz Igi Ayedun em seu solo para a SP-Arte Rotas Brasileiras. E ninguém melhor do que ela para encabeçar a nossa lista de destaques. Uma expografia igualmente especial em ressonância com o índigo blue. Uma obra prima!
- Lima Galeria
Mil Cabeças sob a Apoteose do Último Céu: Nós amamos quando as narrativas fantásticas adentram os imaginários para criar uma mistura perfeita entre arte e outros saberes. Um verdadeiro abre-alas com obras do Mestre Zimar e Thiago Martins de Melo para recontar o temor do abismo e a abundância da natureza.
- GDA
Para manifestar o direito de existir na história a partir da fotografia, o projeto Retratistas do Morro apresentou obras dos mineiros Afonso Pimenta e João Mendes, que resgatam as memórias afetivas das favelas e falam das desigualdades, representações e identidades negras e periféricas.
- Igreja do Reino da Arte
A gente sempre quer saber quais artistas vão nos surpreender quando o quesito é suporte. E Andy Villela e Edu de Barros mostraram todo o poder transformador de uma Santa do Paoco em impressão lenticular. As réplicas canônicas em cera e os cultos d’A Noiva foram uma performance a parte.
- Carmo Johnson Projects
Com obras sensacionais de Mytara Karaja Rare Hunikuin, Bruno Novelli e Alberto Pita. Com destaque para os trabalhos de Mytara, com uma uma série de totens em cerâmica com imagens de tetas, vulvas e cobras, consequências de um fazer ritualístico que se repete, que é passado de geração em geração, dirigido ao rezo das mulheres pajés.
- Arte Pará
As criações artísticas dos artistas Antônio Dias Júnior (Abaetetuba, PA), Gabriel Bicho (Porto Velho, RO), Rafael Matheus Moreira (Belém, PA), Sofia Ramos (Boa Vista, RR), Domingos Nunes (Marabá, PA) e Marcone Moreira (Pio XII, MA); refletem a diversidade, complexidade e o cotidiano das várias “Amazônias” que existem, estabelecendo um diálogo profundo entre natureza e cultura, histórias, memória e desafios dos indivíduos que a habitam.
- Paulo Darzé Galeria de Arte
Arte é missão, vocação e festa. E a Paulo Darzé Galeria propôs um belíssimo e potente diálogo entre dois artistas baianos, Ayrson Heráclito e Nadia Taquary. Uma mostra transitando entre diferentes obras e suportes para falar de corporalidades e corporificações, axé e ancestralidades.
- Galeria Karla Osório
Com sua Liberdade caça jeito, inspirada em Manoel de Barros para reunir 7 artistas que apresentaram uma brasilidade original, sem amarras para criar, liberdade para pensar em um mundo mais inclusivo, amplo e singelo pelos olhares de: José Ivacy, Moisés Patrício, Ricardo Homen, Matheus Marques Abu, Almandrade e Selva de Carvalho.Liberdade caça jeito, na Galeria Karla Osório para a SP-Arte Rotas Brasileiras (2023)
- Verve
Que apresentou Família, mostrando o quão reconfortante é estar em conjunto com artistas que dialogam questões contemporâneas, religiosidades e erguem bandeiras em seus fazeres. Um diálogo entre Ana Beatriz Almeida, Moisés Patrício, Cici de Oxalá, Gustavo Rezendo, Mauro Piva e Shai Andrade. Maravilhoso!
- Galeria Karandash
Cores para todos os lados para repensar Nordestes. É assim que Dalton Costa e Maria Amélia Vieira apresentam suas obras e de outros 12 grandes artistas e mestres como: Amilton, Resêndio, Vieira, Clemilton, Zé do Chalé, Antônio de Dedé e sua família, Fernando Rodrigues, Roxinha Lisboa (Dona Roxinha), Valmir, Eraldo e Véio. Uma verdadeira viagem pelas nossas rotas brasileiras!
Outro destaque especial vai para o Ateliê Acaia + XiloCeasa que apresentaram uma série de trabalhos em xilogravuras dos alunos e artistas dos grupos educativos dos diversos ateliês oferecidos pelo projeto à comunidade da Vila Leopoldina, território onde ocorreu a edição da SP-Arte Rotas Brasileiras 2023.
Outro espaço de destaque foi o promovido pela ativação da Vivo Cultura com participação de grandes nomes das artes, intervenções de Panmela Castro, Caligrapixo e a Slam das Minas SP.