Na Philos, apresentamos uma mostra de poemas da escritora Dia Nobre, do seu livro de poemas Todos os meus humores. A apresentação a seguir é de Jarid Arraes:

Falar abertamente sobre saúde mental ainda é uma dificuldade para muita gente. A ignorância sobre o tema e o estigma atribuído aos transtornos mentais fazem com que esse seja um dos fatos mais controversos da atualidade, afastando pessoas e alimentando o isolamento de quem lida com qualquer tipo de transtorno mental. Mas este livro nos convida para uma caminhada que pode mudar tudo isso dentro de nós.

Todos os meus humores junta poesia, estética e enfrentamento. Dia Nobre encara mentiras, monstros, sombras, insensibilidade. O conjunto desses poemas é uma experiência de aproximação e de intensa troca. Sobretudo entre mulheres; mulheres que historicamente foram vítimas dos abusos dos manicômios e sanatórios, mulheres que foram (e são) carimbadas como histéricas por não se adequarem aos limites da misoginia, por falarem aos limites da misoginia, por falarem em voz firme e alta contra ela.

Não tenho dúvidas de que cada pessoa terá uma experiência relevante.

Todos os meus humores é nossa oportunidade de enxergar, aprender, sentir em conjunto, ler poesia transformada em manifesto.

Leia três poemas selecionados do livro Todos os meus Humores, de Dia Nobre:

toda mulher tem uma luz dentro de si. assim, quando o sol baixa ele pode iluminar o ambiente com clarividência interior de um pensamento que não cede à escuridão da noite. toda mulher emana energia criadora e os homens têm inveja do útero que se inquieta, se divide, reproduz a vida cotidianamente, e, resiste à violência do falo penetrador de corpos e consciências.

***

meus dedos passando
pelos teus cabelos
não, nunca mais
um cigarro no parapeito da janela
não, nunca mais
meu corpo na tua cama
não, nunca mais
essa palavra no meu vocabulário.

prefiro me curvar à palavra
do que à vontade de deus
não carrego mala ou cruz
não me importam as pedras
as transcendo na ponta de minha caneta.

***

sou eu que escrevo minha história
que um dias minhas filhas hão de ler
e saber que eu fui uma mulher
que driblou o destino.

– quando a bruxa escapa da fogueira

Nascida em Juazeiro do Norte, cariri cearense, Dia Nobre é historiadora, escritora e poeta. Possui dois livros publicados na área da pesquisa histórica: O teatro de Deus e o premiado Incêndios da Alma, publicado em 2016. Atualmente vive em Petrolina (PE), onde trabalha como professora universitária desenvolvendo projetos ligados à literatura, história e feminismo. As ilustrações são de Cecilia Campironi, nossa colaborada da Itália.

Publicado por:Philos

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