Era uma manhã de inverno, o céu estava nublado, as flores pareciam chorosas no jardim de sua casa, ela estava quentinha em sua cama confortável quando ouviu o despertador tocar as 06h00min. Embora ela gostasse do calor de sua cama, preferiu levantar-se para mais um dia de aula, principalmente porque era aula de sua matéria preferida: Matemática.
Chamavam-na de “nerd”, pelo simples fato dela se dá bem não só em matemática, mas em todas as matérias, conseguia boas notas só pelo seu esforço de estudar, não porque queria ser mais do que ninguém, esse era o discurso dos preguiçosos da sua turma. Ela não dava muita importância para todo esse falatório e continuava a curtir sua matéria, os números para ela eram como se fosse seus filhos, amava-os indiscutivelmente. Adorava os desafios que seu professor lhe dava para serem resolvidos, sentia-se fascinada por aqueles problemas considerados dificílimos, ela decifrava-os como um enigma, isso só fazia com que ela se apaixonasse mais ainda pelos cálculos.
Certa vez, quando estava na biblioteca da sua escola resolvendo seus cálculos matemáticos, era lá que se sentia mais segura, o silêncio lhe proporcionava uma paz para que pudesse resolver com calma cada operação. Não percebeu que do outro lado da biblioteca, estava acontecendo uma roda de leitura, lá estavam sendo declamadas as mais diversas poesias, dos mais diversos poetas, desde Carlos Drummond, Fernando Pessoa até o sensualismo de Florbela Espanca.
Ela ouvia as poesias atentamente, esqueceu até de seus cálculos, por um instante aquelas palavras soaram como músicas aos seus ouvidos, pôde sentir uma sensação de prazer indescritível, cada palavra declamada lhe causava arrepios, fechou os olhos para se imaginar naquelas poesias.
Foi amor à primeira vista, pensou ela. Levantou-se de sua cadeira e caminhou até a roda do grupo de leitura. Havia um banco vazio e resolveu sentar-se devagarzinho para não atrapalhar. Mas um rapaz que a viu se aproximar, chamou-a para participar, ela ficou um pouco apreensiva, pois não tinha muito contato com as palavras, gostava de ler, mas não tinha nenhuma intimidade com livros de literatura. Lia com entusiasmo apenas os enunciados das questões de matemática. Mesmo assim aceitou e leu uma poesia que lhe indicaram.
Começou a ler baixo o primeiro verso. A cada palavra declamada, uma onda de excitação lhe invadia o corpo. Aumentou o tom da voz nos versos seguintes, sem perceber se encontrava de pé, gesticulando, andando de um lado para outro, franzia o cenho em uns versos incrédulos, sofria com os pensamentos descritos, sorvia cada sentimento escondido naqueles versos poéticos.
Ao terminar de declamar as últimas palavras daquela poesia, estava deitada no chão, extasiada, anestesiada, fascinada. Lágrimas de emoção escorriam pela sua face quente.
Naquele momento pôde sentir as mais belas sensações que as palavras causavam a quem lhe admirava.
Despertou do seu êxtase com o barulho dos aplausos daquele grupo, todos sorriam admirados para aquela jovem que há pouco fez amor com as palavras e nem percebera. Ela levantou-se e deu sorriso, meio envergonhada, se ajustou no banco e não conseguiu falar nada, apenas segurava aquele livro com toda sua força, abraçava-o como se estivesse abraçando um amante, com uma mãe abraça um filho amorosamente, como a princesa que encontrou seu príncipe.
Ela não sabia, mas essa experiência com as palavras seria a primeira de muitas que estavam por vir. A ponte apenas foi construída para novos caminhos serem percorridos. Uma nova jornada de encantamento poético se iniciava. O amor que sentia pelos números, agora teria que ser dividido com as palavras.


Rogelma Sousa (Itapipoca, 1987). Graduanda em Letras pelo Iva – Instituto de Estudos e Pesquisas do Vale do Acaraú – Uva, professora de reforço escolar em sua casa. Amante da leitura, apaixonada pela vida, lê nas horas vagas e também na correria do dia a dia, escreve por inspiração, estuda, trabalha e adora a companhia da família.

Publicado por:Philos

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