Esta é a terceira exposição individual que o MAC USP realiza da obra da artista Cybèle Varela (Petrópolis, 1943). Varela apareceu no cenário brasileiro nos anos 1960, com obras e objetos figurativos, que dialogavam com estilemas e debates em torno da Arte Pop, mas que aqui tinha outros contornos a partir da experiência da chamada Nova Objetividade Brasileira. Em seus primeiros trabalhos, entre 1965 e 1966, pareciam emergir referências claras à cultura popular e autodidata do país. A partir de 1967, eles incorporam outros elementos: a cultura popular urbana, aquela divulgada pelos meios de comunicação de massa (sobretudo a televisão), a linguagem da propaganda, vistos de um ponto-de-vista crítico e irônico. É desta fase inicial da produção da artista que o MAC USP possui duas obras, das quais partimos para propor a exposição que ora se realiza.

A primeira metade da década de 1960, no Brasil, na qual Cybèle Varela se formou, foi marcada pela presença de vários grupos de artistas, principalmente no eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Neles, a retomada da figuração, aliada a novos materiais e técnicas de pintura (que incluíam a tinta em spray, os esmaltes sintéticos e tintas automotivas), constituíram um preâmbulo às experiências mais conceituais. Esse momento rico e potente chegou ao seu fim no campo das artes visuais com a instituição do Ato Institucional no. 5, em dezembro de 1968, que inaugurou assim o período mais duro da ditadura militar brasileira. A expressão maior disso é, efetivamente, o conjunto de obras que Varela enviou para sua participação na 9a Bienal de São Paulo, em 1967. Ela chamou a atenção da imprensa ao ter suas obras retiradas daquela edição da Bienal pelo famigerado DOPS (Departamento da Ordem Política e Social, órgão da ditadura militar, responsável pela censura e pelo terrorismo de estado contra opositores ao regime).

A cultura de massa difundida pela televisão, na virada dos anos 1960 para os anos 1970, aparece claramente nos motivos e temas tratados pela artista. Os motivos e elementos por ela tratados em suas obras estiveram presentes nessa cultura televisiva, que tratou de domesticar os conflitos geracionais e de comportamentos sociais entendidos como subversivos para a deglutição da classe média brasileira na década seguinte.  Assim, Varela articula temas da cultura de massa daquele final de década de 1960, partindo da prática da pintura, mas transformando-a através do uso de novos suportes (o compensado) e novos procedimentos (a colagem e apropriação do papel de jornal, por exemplo). Ela também é fruto de um potente sistema da arte, voltado para a promoção da nova geração, que não fosse o interregno da ditadura militar, teria consolidado centros de criação artística fora das grandes capitais. Para a curadora Ana Magalhães:

“Ela também é fruto de um potente sistema da arte, voltado para a promoção da nova geração, que não fosse o interregno da ditadura militar, teria consolidado centros de criação artística fora das grandes capitais”

Na abertura da exposição acontece uma visita guiada com a artista e o lançamento do livro Cybèle Varela – Trajetórias, organizado por Ana Magalhães e Ariane Varela Braga.


Serviço: Cybèle Varela: Imaginários Pop, com curadoria de Ana Magalhães e Ariane Varela Braga. Abertura dia 1 de julho, às 11 horas [até 1 de outubro de 2023] no MAC USP, na Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301, no Parque do Ibirapuera, de terça a domingo das 10 às 21 horas. Entrada gratuita.

Publicado por:Philos

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