escreLer

Escrevo sem ver porque ler deturpa
na garganta as palavras se tornam vistas
escrevo porque só vejo depois de só.

Corro e caio e ao cair corro
atravesso a pedra e me seguro
aquela que se aproxima, me diz baixinho:
segurar faz despencar.

Apenas me faço
se me desfizer
e se tentar me segurar
saiba que o que me segura
é
a garganta.

hasura

A palavra muda
a letra, quando muda, silencia
agá, h
– a letra muda.

Haste, álgido
aste, hálgido
a letra muda não muda nada
H, não faz som
a letra só ressoa quando, em mim, faço eco da minha voz.

Na garganta que há,
a letra muda.

Haver, muda quando tem algo a ver
H
a letra muda, pode mudar.

título

Não nomeio porque nomear é se perder
se perder nos limites do que se passa a poder
quem se nomeia tudo pode
menos voltar atrás em ter se nomeado.

Tempo que decreta, legifera, sentencia que assim tu és
e assim precisará se sustentar sendo
é por ser que preciso sempre ser?
é por nomear que preciso me tornar o próprio nome da coisa nomeada?
receio, hesito, resisto, e não digo.

Dificulto a definição
vou para o que não foge do que se afirma
sigo, sem saber que nome dar
por saber exatamente que nome daria.

A minha dificuldade é de me tornar o nome daquilo que eu dei e isso nunca mais ter volta
o indizível do não nomeado permanece para sempre guardado,
em caixa de segredo,
em caixa sem afago.

Acordo.
Escrevo.
Eu sou o meu próprio nome. Eu sou o meu nome próprio. Eu sou própria.


Michelle Pastorini é Mestre e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ.


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Publicado por:Philos

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