O Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, dará lugar à exposição Refrações Camonianas em Artistas do Século XXI – Ut Poesis Pictura, com curadoria de Maria Bochicchio. Vinte artistas contemporâneos foram convidados a dialogar com Camões, por meio de obras inédita nesta exposição que inaugura no dia 17 de novembro e vai até o dia 28 de março de 2021.

Como dilucidou Santo Agostinho – o grande pensador da problemática do tempo e da memória, com marcantes influxos na poética de Camões –, só vivemos o presente, mas nele vamos revendo ou refazendo o passado e imaginando ou projectando o futuro.

Passa por aí a criação estética, não só no domínio da intertextualidade literária, mas também no plano, porventura mais complexo, das correlações entre as artes.

Por consequência, a consideração dos nexos que a nossa contemporaneidade artística estabelece com as grandes figuras da tradição cultural constitui questão nuclear na compreensão actual da criação estética.

Nesse quadro, avulta Camões, como mito vivo da cultura lusíada e autor cimeiro do cânone nacional (como Dante ou Cervantes); e a sua incerta vida, a sua forte e perturbadora personalidade, a sua obra inacomodada e fascinante (de alcance universal, como Shakespeare ou Goethe), continuam a interpelar e a estimular os seus leitores. Assim acontece, em particular, com esses receptores qualificados que são os artistas dos nossos dias.

Entre estes e Camões, prossegue uma relação genesíaca, prenhe de interrogações críticas e de sugestões criativas. Por isso, o CIEC – Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos concebeu e, em parceria com o MNMC – Museu Nacional de Machado de Castro e a CMC – Câmara Municipal de Coimbra, levou por diante um gesto propiciatório: o convite a um grupo altamente representativo de artistas plásticos para, na diversidade de orientações com que se têm distinguido os seus trajectos, manifestarem em obra original facetas do seu diálogo com o legado camoniano.

Eis como, num lance feliz, se abriu caminho para a extraordinária exposição de Refracções camonianas em artistas do século XXI, que reúne, em inédita convocação de tantos nomes grados, obras de: Albuquerque Mendes, António Olaio, Arlindo Silva, Cabrita, Francisco Laranjo, Fernando Marques de Oliveira, Graça Morais, José Maçãs de Carvalho, José Rodrigues, Júlio Pomar, Levi Guerra, Lu Lessa Ventarola, Manuel Casimiro, Nikias Shapinakis, Pedro Calapez, Pedro Pousada, Pedro Proença, Rui Sanches, Sobral Centeno, Zulmiro de Carvalho – todos em diálogo com Camões.

Publicado por:Philos

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