Empoderamento

O meu corpo pede socorro
E é uma raiva que queima por dentro do meu olhar
É uma ansiedade disso tudo acabar
É uma agonia o som do meu choro.
Enquanto a gente estuda,
Deita no lago e põe o corpo a mercê da natureza
Vem um de um lado, um do outro
No fim vai por a culpa na cerveja
No meu short curto, na minha safadeza
Por estar dando um mole sutil
Por estar olhando pra ele – com certeza
Que é coisa de mulher – ser discreta
Na verdade eu estava sozinha na rua deserta
Porque queria ser invadida, ser cercada
Porque eu nasci vadia e mereço ser estuprada
Porque meu corpo é propriedade masculina
Na qual eu não questiono, eu não decido nada
Eu aceito e obedeço com a boceta arrebentada
Com a cabeça estraçalhada, no meio da estrada
Porque meu agressor logo se forma
Vai ser pai de família, se manter em forma
E ninguém nunca vai saber, não tem cicatriz
Como essa que ele diz que eu mesma fiz
–  porque eu quis –
E me obriga a conviver com isso
E os policiais me obrigam a lidar
Mas o empoderamento me disse
Que eu tenho que lutar,
Que não estou sozinha e nem sou louca de me revoltar
De não lavar sua louça, de te desmascarar
Porque hoje fui eu, para amanhã não ser uma outra
Pra você nunca mais ferir nenhuma garota
Pra você me pagar e pagar a todas as mulheres
Que merecem conviver com medo
De sentar ao seu lado no ônibus,
De beber contigo no bar
E de quando não quer: negar.
Isso é nossa revolta, esse é o nosso momento
E vamos chamá-lo de empoderamento.


Hozana Bidart (Rio de Janeiro, 1997). Encontra na poesia uma forma de desconstrução: da LGBTfobia, do machismo, do racismo, de preconceitos sociais e culturais e, acima de tudo, luta pela sua ideologia de que a poesia nasceu para ser acessível a todos, como uma espécie de voz e alento, sem perder uma delicadeza poética única.

Publicado por:Philos

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Um comentário sobre ldquo;Neolatina: Mostra de poesia lusófona, por Hozana Bidart

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