O que diabos a baiana tanto tem?

O que diabos a baiana tanto tem
que todo mundo quer cantar?
É rabo de saia, pois é
e tem um gosto de mar…
Lava meu perfume importado
com seu suor a me banhar
tira do meu baticum esse fado
ao me tirar pra sambar
pôs no meu pescoço umas guias
e esse tal de patuá
me explicou dessas suas magias
falou de cada um orixá
depois, das noites de euforia
essa bastou me mostrar
e a seriedade da Bahia
pra além de qualquer mar.
A baiana enfeitiça, verdade
e eu, que nem sinto saudade
das negas do além-mar
quero plantar nessa terra
umas crianças que berram
pra minha alma acordar.
Agora fala do mundo de frescura
que fez minha alma desamar
não ouse não chamar de cultura
essa baiana que tanto faz rebolar
é tanta raça e brandura
que a nega perde a cintura
de tanto se deslocar
enquanto seu moço do lado
bate um pandeiro inspirado
o bicho só falta falar!
Ela me chama estrangeiro
e brilha os olhos pro mundo de lá
mal sabe a baiana da festa
que eles nem sonham existir,
suas plantas e ervas são ouro
sem contar que nunca me derramou um choro
baiana só sabe sorrir.


Hozana Bidart (Rio de Janeiro, 1997). Encontra na poesia uma forma de desconstrução: da LGBTfobia, do machismo, do racismo, de preconceitos sociais e culturais e, acima de tudo, luta pela sua ideologia de que a poesia nasceu para ser acessível a todos, como uma espécie de voz e alento, sem perder uma delicadeza poética única.


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Um comentário sobre ldquo;Neolatina: Mostra de poesia lusófona, por Hozana Bidart

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