Caverna
Cristais que acenam imbricados,
Ancorando no ninho que se abre,
Que se entrega em flor, em doce odor,
No cerrado que resiste ao fogo,
Expondo a polpa, a entrada louca,
Nas linhas curvas da caverna
Que, no remanso, interna
O arfar do peito que trejeito,
Qual fogosa fragata,
Ao respirar tão pura prata.
Na cavidade natural, a boca mestra,
A gruna aquecida pelo furor e paz,
De prazer desvairado, roca audaz,
Que oferece, a seu garimpeiro,
Sedento beija-flor ligeiro,
O mergulho que nos satisfaz.
No rasgo do breu da gruta,
De lavra delicada e bruta:
As diamantinas femininas,
O salão oculto,
A vereda,
As galerias da alegria,
Na ribanceira do cio,
Que, abençoada, anuncio…
Exalando intensos fluídos
De aventureiros ruídos, possuídos,
No mais expressivo composto,
Esculpido na flora que aflora
No antes, no sempre, no agora,
Sob o suor do círio cristalino,
Na parte sacra das balizas,
Onde, nu e simples, desliza,
Coroado de esplendor,
Mais um ato de vida de amor…
Lucrecia Welter (Paraná, 1953). Escritora multipremiada e presidente da Academia de Letras de Toledo, Paraná. É Revisora de textos da Revista Philos e Curadora de Literatura lusófona da mesma Revista. Tem diversos livros lançados e publicações em coletâneas poéticas.
Um comentário sobre ldquo;Neolatina: Mostra de poesia lusófona, por Lucrecia Welter”